100 anos do Chefe

20/02/2024 00:03 - por Redação jp@jornaldopovo.com.br

O Paulo
Paulo Salzano Vieira da Cunha, o Chefe Paulo, nasceu no primeiro dia do signo de Peixes, 20 de fevereiro, e nesta terça-feira, se ainda fosse vivo, estaria completando 100 anos. Exerceu por 52 anos a profissão de jornalista, sempre à frente da produção do Jornal do Povo e foi idealizador de eventos que perduram até hoje na comunidade cachoeirense, como o Jantar dos Destaques e o Dia do Vizinho, marcas que distinguem Cachoeira no Rio Grande do Sul e que unem gerações diferentes em 95 anos de existência do JP.

O filho
Nasceu cachoeirense filho de Antônio Peixoto Vieira da Cunha e Angelina Salzano Vieira da Cunha, segundo de uma família de quatro irmãos e duas irmãs. Já no Ginásio Roque Gonçalves demonstrava esta paixão pelo jornalismo, editando um periódico escolar. Faleceu em 31 de julho de 1996 como um de seus mais importantes líderes e mais longevos empresários do setor de comunicação do Brasil, aos 72 anos de idade. 

O pai
Sua grande paixão foi a esposa Sulema Emília Vieira da Cunha, com quem casou em 15 de maio de 1946, tendo cinco filhos e uma filha que lhes deram 19 netos. A própria relação familiar de Paulo Salzano confundia-se com a vida profissional. Dois de seus filhos dirigem hoje o JP, Eládio é o diretor-geral e Liberato é o diretor-editor. O filho mais velho, Paulo, dirige a Gráfica Jacuí. Também tiveram ligação com o jornal os filhos José Antônio (ex-editor) e Helena (ex-colunista). Há ainda Sérgio, que não teve nenhuma passagem pela empresa.

O cidadão

Chefe Paulo viveu toda a sua vida em Cachoeira, cidade que sempre amou e que só se ausentou duas vezes. Primeiro, quando morou em Porto Alegre, cursando o pré-médico no Colégio do Rosário, e, segundo, quando abriu uma filial do JP em Caçapava do Sul, em 1947, onde gerenciou a Folha do Sul, jornal que circulou até 1992. Em sua homenagem, a Casa de Cultura de Cachoeira do Sul chama-se Paulo Salzano Vieira da Cunha.

 

O chefe
Paulo Salzano ingressou no Jornal do Povo no dia 1º de outubro de 1944, depois de uma experiência como bancário. Até hoje é a inspiração ética que conduz o JP e um dos principais exemplos de profissionalismo, desprendimento, voluntarismo, engajamento e espírito propositivo de Cachoeira do Sul.

FALOU & DISSE

"Eu dou comida, roupa e educação. Para diversão e namoro eu dou emprego.”
Principal conselho dado por Paulo Salzano a seus filhos. Apesar da prosperidade da empresa, optou por combater a possível nobreza dos filhos. Eládio começou como limpador de clichês e vendedor de assinaturas. Liberato trabalhava como arquivista e revisor. A austeridade do Chefe Paulo foi decisiva também em duas opções históricas do JP: a de não se render por manchetes sensacionalistas e a de optar pelo noticiário comunitário.

O varredor
A primeira tarefa de Paulo Salzano no Jornal do Povo entrou para a história da empresa e se constitui na primeira informação repassada aos funcionários que vão se graduando: Paulo Salzano pediu uma função, qualquer uma, e lhe deram uma vassoura para varrer o salão dos entregadores.

O empresário
Em 1957, com o falecimento do então diretor do JP e irmão do Chefe Paulo, o deputado estadual e secretário de Educação do Estado, Liberato Salzano Vieira da Cunha, em acidente aéreo em Bagé, o comando do JP passou para suas mãos. Paulo Salzano adquiriu as ações dos demais herdeiros e passou a imprimir no JP sua filosofia jornalística e de ação comunitária.

O jornalista
Mesmo em férias, irrequieto, Chefe Paulo interrompia viagens para verificar o andamento do jornal. Risco de vida nunca foi empecilho para manter-se à frente da empresa. Em 1954, tão logo surgiu o boato de que o suicídio de Getúlio Vargas se dera por não ter o presidente suportado a pressão da imprensa, getulistas de todo o país saíram em cruzada incendiando sedes de jornais. Quando desembarcaram em Cachoeira encontraram Chefe Paulo e um funcionário guardando o JP. A intervenção do Exército impediu o empastelamento. O falecimento da sócia-proprietária Sulema Vieira da Cunha, em 1992, foi o único fato capaz de diminuir o ímpeto de Paulo Salzano em manter-se no comando do Jornal do Povo.

O líder
O reconhecimento de sua liderança comunitária e setorial veio do Município e do Estado. Foi patrono da Feira do Livro, dirigiu por três gestões a Associação de Jornais do Interior e por muitos anos foi o agenciador da Varig em Cachoeira. Foi um grande incentivador das letras, tanto que mantinha uma coluna para publicar as poesias publicadas pelos leitores. Hoje, existe um prêmio literário em Cachoeira do Sul para incentivar as letras, promoção do JP, o Prêmio Paulo Salzano Vieira da Cunha de Poemas.

O repórter
Nos últimos anos de vida, mesmo enfermo, Paulo Salzano não se afastou do jornalismo. Toda a noite, depois de uma varredura pelos noticiários de todas as televisões captadas em sua parabólica de sinal pago, ligava ao JP para alertar as informações que seriam do interesse dos leitores. Nunca esqueceu dos aniversários dos concorrentes e exigia que o JP registrasse, como demonstração de fidalguia e grandeza. Quando comemorou 50 anos de jornalismo, em 1994, o bispo D. Ângelo Salvador, diante de tantas manifestações emocionadas, declarou: “Feliz de quem pode ouvir em vida as homenagens que geralmente prestam depois da morte”.

FALOU & DISSE
"Paulo Salzano é o exemplo de um nome que basta por si para explicar uma parte significativa da própria história da imprensa no Rio Grande do Sul. Foi o responsável pelo fato do JP ter construído uma linha de credibilidade para a empresa, pautando-a em sua própria conduta pessoal e profissional e fazendo refletir nas páginas que ajudou a escrever o seu equilíbrio e sua simpatia na relação com seus colaboradores.”
Mensagem do prefeito Ivo Renê Pinto Garske, comandante do município por 10 anos, entre 1983 e 1988 e de 1993 a 1996 

A despedida 
Os problemas de saúde e a dificuldade para aceitar a dependência cada vez mais íntima do jornalismo para com a tecnologia de computador o fizeram gradativamente aceitar a aposentadoria. Foi uma transição sem dor, dentro da família e acompanhada do maior carinho por parte de seus filhos, seus funcionários e seus colaboradores. 

O leitor nº 1 
Paulo Salzano Vieira da Cunha foi a verdadeira salvaguarda do direito do leitor a uma informação correta, real e que fornecesse condições para formar opinião. Como leitor número um do Jornal do Povo, Chefe Paulo alertava imediatamente aos erros de grafia e imprecisões históricas. No setor editorial, aconselhava o tipo de comportamento que a empresa deveria ter na vivência de problemas cotidianos e nos fatos nacionais. Por seu prestígio na comunidade, foi uma das personalidades escolhidas por Ulysses Guimarães, o comandante do Movimento Diretas Já no Brasil, que em 1984 percorreu o país pela volta do voto direto para presidente, para ser visitada na estada que teve em Cachoeira do Sul para o comício. 

O voluntário
Paulo Salzano, durante sua vida, chegou a integrar simultaneamente mais de 20 entidades, de comunitárias a setoriais, além de, em algum momento, ter sido presidente da maior parte delas. Algumas destas entidades eram estaduais, o que tornou seu nome conhecido pelas redações de vários jornais gaúchos e brasileiros.

O NÚMERO
10.000
Número aproximado de edições lançadas aos leitores pelo Jornal do Povo durante a trajetória de 52 anos de Paulo Salzano Vieira da Cunha como jornalista.

O desconfiado
Na década de 1980, o zelo de Paulo Salzano chegou ao extremo: duvidava que a informática pudesse substituir em 100% o controle da empresa. Mesmo afastando-se aos poucos da produção industrial do JP, Paulo Salzano resistia lembrando que uma queda de luz poderia prejudicar a permanência dos dados no computador. Em respeito a sua opinião, o departamento de assinaturas foi controlado simultaneamente pelo computador e pelo sistema manual durante alguns anos para evitar que um acidente destruísse os arquivos. Em verdade, o temor de Paulo Salzano teve seu fundamento: em duas madrugadas de tempo carregado e tempestade no ano de 1994, descargas elétricas danificaram o sistema de computadores do JP e impediram que, por duas vezes, o jornal deixasse de circular. Não fosse o controle manual, o jornal teria perdido todo o cadastro de assinantes e de seu arquivo de fotos.

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