Blog do Mistério
A caverna dos condenados
Nem só na Rua do Arvoredo viveu um casal cujos crimes brutais o projetou para outras eras. O Reino Unido também tinha seus canibais, especificamente a Escócia.
A pacata localidade de Bennane Head se localizava em um caminho que era utilizado por muitos viajantes, com o tempo ganhou uma imponente estrada. Viajar em tempos passados não era das tarefas mais seguras e se fazia comum que muitos fossem e jamais regressassem. Especialmente por esta redondeza, diziam que a terra engolia os incautos, mas os moradores mais velhos sabiam a verdade: algo os arrastava para a caverna oculta entre as falésias, um antro de horrores inomináveis.
A família Beane não era vista à luz do dia. Sawney, o patriarca, observava o mundo das sombras, guiando seus descendentes deformados, frutos de uma linhagem sem novos rostos. As crianças cresciam sem conhecer outra vida além da escuridão da caverna, do cheiro de carne salgada e do gosto metálico do sangue. Para eles, os gritos dos estranhos não eram sinais de agonia, mas canções de um banquete.
Durante vinte e cinco anos, a estrada se tingiu de medo. Roupas rasgadas e pertences quebrados eram os únicos vestígios das vítimas, misturando-se à lama e ao sal marinho. O cheiro de podridão se misturava ao ar, mas ninguém pensou em investigar. A aldeia próxima aprendeu a trancar portas e a evitar viagens noturnas, sussurrando orações contra criaturas que não pertenciam a este mundo.
Mas todo reinado de terror chega ao fim. O Rei James VI, ao tomar conhecimento dos inúmeros desaparecimentos, enviou uma tropa armada para varrer Bennane Head. O que encontraram na caverna fez até os soldados mais endurecidos recuarem: ossos empilhados como lenha, carne seca pendurada em estalactites, crânios transformados em tigelas... E, no centro do pesadelo, os Beane, rosnando como feras acuadas, olhos brilhando à luz das tochas.
Não houve julgamento. A justiça para monstros era a forca e o fogo. Homens, mulheres e crianças foram arrastados para fora da caverna, chutando e gritando, mas seus clamores não encontraram misericórdia. Em Londres, foram despedaçados como faziam aos outros, sem chance de redenção. Alguns afirmaram que as crianças gritaram até o último instante, não por medo, mas por fome.
A caverna? Permanece lá até hoje, uma ferida aberta na terra, destino de turistas que não sensíveis a agonias de eras passadas. Dizem que, em noites de vento forte, ainda se ouvem sussurros entre as rochas – chamados famintos, promessas de vingança. Por mais que os crimes tenham entrado para a história, o sobrenatural paira naquela caverna. Afinal, certas sombras nunca desaparecem completamente.
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