Blog da Poesia
A poesia contemporânea de Ângela Calou
Poeta e contista cearense, doutorando em Filosofia. Influenciada pela literatura russa e Schopenhauer.
Sua escrita se caracteriza pela linguagem ágil e moderna.
Insurgente. Pungente.
Densa.
Entre suas publicações, destaque para Eu tenho Medo de Górki e outros Contos.
Des – Ter
Aceito: Devir. De ver, partir.
Dever. Por ti. (Su)portar... a dor.
Ardor, de(s)ter: não-ser?
S(end)o, somos?... (As)sumo...:
Da soma, o (de)feito?... a sub(a)atração!
High(va) agree(doce), (de) mean
Foll(riosa) deep(erder) mant(tiras)
Sad(ica)… mad(itando) star(recida)
See(u) so(oubesse como) far(ao) my(s)...
E então Sunrise, and so... risos.
Em matéria de amor
eu, doutor em chagrisse
Pedrinho de petitices
misto de lobo e pastor
Se o assunto é amor
não me peças conselho
sobrolhos em pesadelo
mais fácil falar shikomor!
Vindo o amor na calçada
atravessa, desce a escada
salta-te logo debaixo d'água
Sê avarento de sentimento
poupando teu coração desta
inútil sedição de tormento
e acaso entrar a tristeza na fresta de tua porta: não te assusta, te comporta! Serve-lhe chá, não faças troça... Deixa descansar: é velha e há um sofá. Mira-lhe o cinza dos olhos e o verde-musgo das roupas; não a sirvas de maneira fria, pousa sobre a melhor louça as escondidas ambrosias... Sendo o caso, prepara-lhe um lava-pés com tuas lágrimas;
faz-lhe massagem com mãos de mágoas; oferece-lhe sem pavor o catálogo de tua dor, acrescido de um copo d'água. Prescruta lhe bem os motivos, até que o ridículo da vida cave em ambos um riso... que como apito de trem, fim da visita anuncia - amém!
De que livro tu tiraste esta verdade?
Outra vez conversaram meus olhos e teus óculos. Digo os óculos, pois nós sabemos que eles estão de tal modo pegados ao teu rosto que seria uma estranheza falar de forma diferente. Andei mesmo pela rua do medo, fiz adendos na madrugada. Havia na calçada um galpão de estacionamento, dentro dele a minha voz acendia e eu sorria, investindo no ato de nada reconsiderar. Um não bem dito (bendito!) contra o corpo de um amigo é remédio contra o vulgar. (Ei moço, me arruma uns fósforos? Deram-me uma caixa inteira) ... Duas eu acho. Três da Gal. Quatro dos galos. Cinco dos sinos. Seis dos pães já prontos da padaria. Sete do sol medonho, melindrado. Oito do sim-é-dia, e só depois é que a noite desenssimesmará. Então, tu me dizes, delicada perversidade, saltinhos cor de poeira e manso coração-mirrado: "é desespero isso de andar pela cidade". Sou obrigada a te cumprimentar. "Há um excesso de verdade no mundo" - disse Raduan para uma galinha que ciscava, descompromissada, a terra do sitio - El Dourado de quem cansou dos ornamentos do circo. Depois ele desistiu, digo o Raduan. Assim, peço: não me ofertes o teu excesso de verdade, me deixa apenas a falta dela, essa mãe-d'água que nunca promete graça, milagre ou proteção. Não ouses furtar as minhas dores, foi muito difícil encontrá-las no Mercado Livre. Mas por que as cegonhas não são igualmente responsáveis pelo recolhimento dos bebês mortos? Tu, pela primeira vez em tua vida, tocas de leve as linhas da minha vida na palma honesta da minha mão, entrega-me um livro vermelho/branco: "Poesia da Recusa". Eu sei o que significa o livro, gente morta pra eu pôr no teu lugar.
Mas o que pode, então, o Tempo?
Revirar, ao avesso, um tormento?
Ser antídoto para dor de ferroada?
Príncipe, o da maçã envenenada?
Sumo pilar do eterno movimento
sonda desertos no torso do vento
Plantando heras infelizes, aziagas
parindo feras, loucas e pressagas
Ora é aliança, ora foice espada
nele coincidem porto, mar e jangada
Volátil e indômito por temperamento
fome da fome, raiz do formigamento
Fosca claraboia jamais fechada
redemoinho, o frio golpe do nada
Tudo não passa de mera repetição
Montanhas e pássaros
Minoutauros e astros
Demônios, labirintos
A salvação e os ornitorrincos
Tudo não passa de devir restaurado
Dos olhos da amada
Ao sol na calçada
Do terno rompante
Às mentiras do amante
Tudo é apenas pleonasmo ambulante
Os versos de meus poemas
A língua até nos fonemas
Sobre ou abaixo do sol
O mesmo a lançar seu anzol...
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Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos