Blog da Poesia

A poesia contemporânea de Ângela Calou

05/02/2025 11:08 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Poeta e contista cearense, doutorando em Filosofia. Influenciada pela literatura russa e Schopenhauer.

Sua escrita se caracteriza pela linguagem ágil e moderna.

Insurgente.  Pungente.

Densa.

Entre suas publicações, destaque para Eu tenho Medo de Górki e outros Contos.

 

 

Des – Ter

Aceito: Devir. De ver, partir.

Dever. Por ti. (Su)portar... a dor.

Ardor, de(s)ter: não-ser?

S(end)o, somos?... (As)sumo...:

Da soma, o (de)feito?... a sub(a)atração!

High(va) agree(doce), (de) mean

Foll(riosa) deep(erder) mant(tiras)

Sad(ica)… mad(itando) star(recida)

See(u) so(oubesse como) far(ao) my(s)...

E então Sunrise, and so... risos.

 

Em matéria de amor

eu, doutor em chagrisse 

Pedrinho de petitices 

misto de lobo e pastor
Se o assunto é amor 

não me peças conselho 

sobrolhos em pesadelo 

mais fácil falar shikomor!
Vindo o amor na calçada 

atravessa, desce a escada 

salta-te logo debaixo d'água 

Sê avarento de sentimento 

poupando teu coração desta 

inútil sedição de tormento

 

e acaso entrar a tristeza na fresta de tua porta: não te assusta, te comporta! Serve-lhe chá, não faças troça... Deixa descansar: é velha e há um sofá. Mira-lhe o cinza dos olhos e o verde-musgo das roupas; não a sirvas de maneira fria, pousa sobre a melhor louça as escondidas ambrosias... Sendo o caso, prepara-lhe um lava-pés com tuas lágrimas;
faz-lhe massagem com mãos de mágoas; oferece-lhe sem pavor o catálogo de tua dor, acrescido de um copo d'água. Prescruta lhe bem os motivos, até que o ridículo da vida cave em ambos um riso... que como apito de trem, fim da visita anuncia - amém!

 

De que livro tu tiraste esta verdade?

Outra vez conversaram meus olhos e teus óculos. Digo os óculos, pois nós sabemos que eles estão de tal modo pegados ao teu rosto que seria uma estranheza falar de forma diferente. Andei mesmo pela rua do medo, fiz adendos na madrugada. Havia na calçada um galpão de estacionamento, dentro dele a minha voz acendia e eu sorria, investindo no ato de nada reconsiderar. Um não bem dito (bendito!) contra o corpo de um amigo é remédio contra o vulgar. (Ei moço, me arruma uns fósforos? Deram-me uma caixa inteira) ... Duas eu acho. Três da Gal. Quatro dos galos. Cinco dos sinos. Seis dos pães já prontos da padaria. Sete do sol medonho, melindrado. Oito do sim-é-dia, e só depois é que a noite desenssimesmará. Então, tu me dizes, delicada perversidade, saltinhos cor de poeira e manso coração-mirrado: "é desespero isso de andar pela cidade". Sou obrigada a te cumprimentar. "Há um excesso de verdade no mundo" - disse Raduan para uma galinha que ciscava, descompromissada, a terra do sitio - El Dourado de quem cansou dos ornamentos do circo. Depois ele desistiu, digo o Raduan. Assim, peço: não me ofertes o teu excesso de verdade, me deixa apenas a falta dela, essa mãe-d'água que nunca promete graça, milagre ou proteção. Não ouses furtar as minhas dores, foi muito difícil encontrá-las no Mercado Livre. Mas por que as cegonhas não são igualmente responsáveis pelo recolhimento dos bebês mortos? Tu, pela primeira vez em tua vida, tocas de leve as linhas da minha vida na palma honesta da minha mão, entrega-me um livro vermelho/branco: "Poesia da Recusa". Eu sei o que significa o livro, gente morta pra eu pôr no teu lugar.

 

Mas o que pode, então, o Tempo? 

Revirar, ao avesso, um tormento? 

Ser antídoto para dor de ferroada? 

Príncipe, o da maçã envenenada? 

Sumo pilar do eterno movimento 

sonda desertos no torso do vento 

Plantando heras infelizes, aziagas

parindo feras, loucas e pressagas 

Ora é aliança, ora foice espada 

nele coincidem porto, mar e jangada 

Volátil e indômito por temperamento 

fome da fome, raiz do formigamento 

Fosca claraboia jamais fechada 

redemoinho, o frio golpe do nada

 

 

Tudo não passa de mera repetição

Montanhas e pássaros

Minoutauros e astros

Demônios, labirintos

A salvação e os ornitorrincos

Tudo não passa de devir restaurado

Dos olhos da amada

Ao sol na calçada

Do terno rompante

Às mentiras do amante

Tudo é apenas pleonasmo ambulante

Os versos de meus poemas

A língua até nos fonemas

Sobre ou abaixo do sol

O mesmo a lançar seu anzol...

 

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