Blog da Poesia
A poesia contemporânea e intertextual de Angélica de Freitas
o que passou pela cabeça do violinista
em que a morte acentuou a palidez ao
despenhar-se com sua cabeleira negra &
seu stradivarius no grande desastre
aéreo de ontem
dó
ré
mi
eu penso em béla bártok
eu penso em rita lee
eu penso no stradivarius
e nos vários empregos
que tive
pra chegar aqui
e agora a turbina falha
e agora a cabine se parte em duas
e agora as tralhas todas caem dos compartimentos
e eu despenco junto
lindo e pálido minha cabeleira negra
meu violino contra o peito
o sujeito ali da frente reza
eu só penso
dó
ré
mi
eu penso em stravinski
e nas barbas do klaus kinski
e no nariz do karabtchevsky
e num poema do joseph brodsky
que uma vez eu li
senhoras intactas, afrouxem os cintos
que o chão é lindo & já vem vindo
one
two
three
Rilke Shake é uma das publicações mais importantes e invulgar da poetisa gaúcha Angélica de Freitas. Na obra, Angélica instaura um inovador diálogo entre a novidade e a tradição por meio da sagacidade e da fina ironia.
Vários poemas aferem o conceito.
No poema destacado no post semanal a autora retrata imageticamente o que se pensa na cabeça do violinista russo Igor Stravinsky momentos ante sua morte, em virtude de uma queda de uma aeronave.
No poema, Angélica de Freitas faz diversas intertextualidades. Bela Bartók uma importante compositora da música russa erudita moderna é a primeira. Na seqüência retrata Rita Lee e o Stradivárius, nome de uma lendária marca de violinos, fabricados nos séculos XVII e XVIII. Klaus Kinski foi um ator alemão que atuou o filme Fitzcarraldo, de 1982, do diretor Werner Herzog, no qual o protagonista busca construir uma casa de ópera no meio da Amazônia. Isaac Karabtchevsky foi um importante e fundamental maestro brasileiro.
Por fim, Joseph Brodsky foi um poeta russo, um notável influência para Angélica, laureado em 1987, com o prestigioso Nobel de Literatura.
Para finalizar o ciclo intertextual, o poema da escritora pelotense foi musicado e gravado pelo genial e conterrâneo contemporâneo da autora Vitor Ramil.
Encontrou algum erro? Informe aqui
Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos