Blog dos Livros

Alzheimer em mulheres

21/09/2024 10:31 - por Mildo Fenner mildofenner@hotmail.com

Em sua estreia na literatura, a paulista Ana Barros apresenta ao público o romance “As luzes de dois cérebros anárquicos” (Editora Paraquedas, 208 páginas), um livro potente e sensível  sobre a dinâmica emocional complexa da perda de um familiar e os efeitos perversos  da depressão e do Alzheimer  nesse contexto. A trama envolve três gerações de mulheres de uma mesma família e inicia a partir da morte repentina de uma delas. As que ficaram precisam lidar  com o luto mas também com remorso, medo e culpa que permearam as relações familiares. 

A história tem como protagonistas Virgínia, Simone e Ângela, mãe, filha e neta, respectivamente. O enredo se  desenvolve em duas linhas narrativas: uma subjetiva, em primeira pessoa a partir do olhar da jovem, e  a  objetiva, em terceira pessoa. Enquanto Ângela discorre sobre os oito dias vividos após a morte da mãe, a outra narrativa evidencia episódios do passado para explicar atitudes e comportamentos das personagens. As perspectivas se alternam  entre um capítulo e outro.

Uma das qualidades  de “As luzes de dois cérebros anárquicos” está justamente em ilustrar de forma eloquente e delicada os desafios  de lidar com a depressão e  o Alzheimer, enfermidades que afetam as protagonistas da trama. Habilidosamente, a autora vai a  cada página  descortinando os efeitos  desses males no cotidiano de  cada personagem. O leitor é levado a acompanhar  juntamente com cada uma delas esse percurso que perpassa sentimentos e  emoções intensas.

Ana Barros  compõe cenas  e  diálogos  fluidos sem que pareçam forçados  ou inverossímeis. As tramas que orbitam o enredo, como as relações conflituosas entre mães e filhas, relacionamento abusivo, abandono parental  e machismo, ganham  destaque sem que uma sobreponha  a outra, criando,  assim, uma obra  coesa e madura. A autora presenteia o público  com um romance  que retrata  de forma precisa as mazelas  que caracterizam o nosso tempo.

Ana é especialista em Produção de Textos Literários, formada pelo Instituto Vera Cruz (São Paulo) em 2022. Coordena e ministra oficinas de escrita criativa e desde 2021 atua no Clube do Livro Contemporâneo, iniciativa  encabeçada pela autora  e que busca estimular a leitura de obras produzidas por escritoras brasileiras. 

Trecho:
“Eu não estava bem, fazia tempo que lutava  contra esse veneno  que corroía  minhas falas e vontades. Parecia que minhas retinas estavam embaçadas por conta do suor que evaporou da pele para se precipitar em um choro que não caía. Seca, afundei  em mim mesma sem saber transformar  emoções em lágrimas. Esse embotamento transformou meus movimentos em algo automático, como uma máquina que nunca desligava. A vida tinha me levado para caminhos de retornos impossíveis. Porque, como eu, a maioria das pessoas não tinham o privilégio de viver  a depressão em sua completude. Eu tinha que engolir a angústia por mais um dia, sempre por mais um dia, apenas um dia, e mais um e mais um, até explodir em mil pedacinhos como aquela garrafa de Velho Barreiro.”
(página 162)

A RAINHA DO CRIME I
O mês de setembro  marca o aniversário de nascimento de uma das figuras  mais influentes da literatura mundial. Agatha Christie, conhecida como “Rainha do Crime,” nasceu em 15  de setembro de 1890 e verdadeiramente transformou  o gênero de mistério,  tornando-se a autora mais vendida de  todos os tempos, com mais de dois bilhões de cópias  em todo o mundo.

A RAINHA DO CRIME II
Nascida em uma família de classe média  vitoriana, Agatha Christie teve uma infância marcada por uma educação não convencional em casa,  que estimulou sua imaginação  e criatividade.  Desde cedo, demonstrou  uma paixão pela leitura e uma notável habilidade  para contar histórias. Faleceu  em 12 de janeiro de 1976, aos 85 anos, e sua morte foi lamentada em todo mundo. Até seus últimos dias,  manteve sua paixão pela escrita, deixando um legado literário incomparável. 

Leituras:
“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto  do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar  com os carrinhos  porta-bagagem. Ou seja:  ainda existe gente que canta, ainda existe gente  que brinca.”
(Eduardo Galeano,  3 de setembro de 1940/13 de abril de 2015, jornalista e escritor uruguaio,  autor de mais de 40 livros, combinando ficção, jornalismo, análise política e História).

Destaques:

AS ESTRELAS SEMPRE BRILHAM ACIMA DAS NUVENS ESCURAS


Autora:
Pat Müller 

O livro conta a história de Vicky,  uma jovem prestes a se formar no Ensino Médio que acredita ter o futuro perfeitamente planejado. Em meio a conflitos familiares e  querendo começar a vida universitária  e alcançar uma carreira próspera, ela encontra um objeto que a transporta para o futuro. Em um novo mundo, se depara com uma versão de si mesma que nunca imaginou. Descobre que roubou o namorado da melhor amiga, com a qual está brigada, perdeu a avó e  tem uma relação difícil com os pais. É confrontada então com seus próprios erros e inicia uma jornada de perdão, redenção e  autodescoberta, reconectando-se com a espiritualidade na esperança de encontro  de paz consigo mesma em um caminho cristão.
Editora Mundo Cristão. 168 páginas. R$ 49,90. 

É PARA O MEU BEM


Autora: Fernanda Witwytzky

Conta a história da ovelhinha Bernadete, que queria mais que tudo  descobrir o que existia além da cerca. Mas, o Bom Pastor sempre explicou  que a  cerca estava ali para o bem dela, pois foi construída para protegê-la de todo o mal que a floresta poderia trazer. Mas a ovelhinha Bernadete  parte em aventura cheia de percalços e desafios, ao lado de novos amigos, Ana e Eliseu. Ao final, vai descobrir  que alguns limites existem  realmente para o nosso bem.
Editora Thomas Nelson Brasil. 48 páginas. R$ 69,90.

(As obras apontadas  no Blog dos Livros podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul) 

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