Blog dos Livros
Alzheimer em mulheres
Em sua estreia na literatura, a paulista Ana Barros apresenta ao público o romance “As luzes de dois cérebros anárquicos” (Editora Paraquedas, 208 páginas), um livro potente e sensível sobre a dinâmica emocional complexa da perda de um familiar e os efeitos perversos da depressão e do Alzheimer nesse contexto. A trama envolve três gerações de mulheres de uma mesma família e inicia a partir da morte repentina de uma delas. As que ficaram precisam lidar com o luto mas também com remorso, medo e culpa que permearam as relações familiares.
A história tem como protagonistas Virgínia, Simone e Ângela, mãe, filha e neta, respectivamente. O enredo se desenvolve em duas linhas narrativas: uma subjetiva, em primeira pessoa a partir do olhar da jovem, e a objetiva, em terceira pessoa. Enquanto Ângela discorre sobre os oito dias vividos após a morte da mãe, a outra narrativa evidencia episódios do passado para explicar atitudes e comportamentos das personagens. As perspectivas se alternam entre um capítulo e outro.
Uma das qualidades de “As luzes de dois cérebros anárquicos” está justamente em ilustrar de forma eloquente e delicada os desafios de lidar com a depressão e o Alzheimer, enfermidades que afetam as protagonistas da trama. Habilidosamente, a autora vai a cada página descortinando os efeitos desses males no cotidiano de cada personagem. O leitor é levado a acompanhar juntamente com cada uma delas esse percurso que perpassa sentimentos e emoções intensas.
Ana Barros compõe cenas e diálogos fluidos sem que pareçam forçados ou inverossímeis. As tramas que orbitam o enredo, como as relações conflituosas entre mães e filhas, relacionamento abusivo, abandono parental e machismo, ganham destaque sem que uma sobreponha a outra, criando, assim, uma obra coesa e madura. A autora presenteia o público com um romance que retrata de forma precisa as mazelas que caracterizam o nosso tempo.
Ana é especialista em Produção de Textos Literários, formada pelo Instituto Vera Cruz (São Paulo) em 2022. Coordena e ministra oficinas de escrita criativa e desde 2021 atua no Clube do Livro Contemporâneo, iniciativa encabeçada pela autora e que busca estimular a leitura de obras produzidas por escritoras brasileiras.
Trecho:
“Eu não estava bem, fazia tempo que lutava contra esse veneno que corroía minhas falas e vontades. Parecia que minhas retinas estavam embaçadas por conta do suor que evaporou da pele para se precipitar em um choro que não caía. Seca, afundei em mim mesma sem saber transformar emoções em lágrimas. Esse embotamento transformou meus movimentos em algo automático, como uma máquina que nunca desligava. A vida tinha me levado para caminhos de retornos impossíveis. Porque, como eu, a maioria das pessoas não tinham o privilégio de viver a depressão em sua completude. Eu tinha que engolir a angústia por mais um dia, sempre por mais um dia, apenas um dia, e mais um e mais um, até explodir em mil pedacinhos como aquela garrafa de Velho Barreiro.”
(página 162)
A RAINHA DO CRIME I
O mês de setembro marca o aniversário de nascimento de uma das figuras mais influentes da literatura mundial. Agatha Christie, conhecida como “Rainha do Crime,” nasceu em 15 de setembro de 1890 e verdadeiramente transformou o gênero de mistério, tornando-se a autora mais vendida de todos os tempos, com mais de dois bilhões de cópias em todo o mundo.
A RAINHA DO CRIME II
Nascida em uma família de classe média vitoriana, Agatha Christie teve uma infância marcada por uma educação não convencional em casa, que estimulou sua imaginação e criatividade. Desde cedo, demonstrou uma paixão pela leitura e uma notável habilidade para contar histórias. Faleceu em 12 de janeiro de 1976, aos 85 anos, e sua morte foi lamentada em todo mundo. Até seus últimos dias, manteve sua paixão pela escrita, deixando um legado literário incomparável.
Leituras:
“Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar. Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem. Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.”
(Eduardo Galeano, 3 de setembro de 1940/13 de abril de 2015, jornalista e escritor uruguaio, autor de mais de 40 livros, combinando ficção, jornalismo, análise política e História).
Destaques:
AS ESTRELAS SEMPRE BRILHAM ACIMA DAS NUVENS ESCURAS
Autora: Pat Müller
O livro conta a história de Vicky, uma jovem prestes a se formar no Ensino Médio que acredita ter o futuro perfeitamente planejado. Em meio a conflitos familiares e querendo começar a vida universitária e alcançar uma carreira próspera, ela encontra um objeto que a transporta para o futuro. Em um novo mundo, se depara com uma versão de si mesma que nunca imaginou. Descobre que roubou o namorado da melhor amiga, com a qual está brigada, perdeu a avó e tem uma relação difícil com os pais. É confrontada então com seus próprios erros e inicia uma jornada de perdão, redenção e autodescoberta, reconectando-se com a espiritualidade na esperança de encontro de paz consigo mesma em um caminho cristão.
Editora Mundo Cristão. 168 páginas. R$ 49,90.
É PARA O MEU BEM
Autora: Fernanda Witwytzky
Conta a história da ovelhinha Bernadete, que queria mais que tudo descobrir o que existia além da cerca. Mas, o Bom Pastor sempre explicou que a cerca estava ali para o bem dela, pois foi construída para protegê-la de todo o mal que a floresta poderia trazer. Mas a ovelhinha Bernadete parte em aventura cheia de percalços e desafios, ao lado de novos amigos, Ana e Eliseu. Ao final, vai descobrir que alguns limites existem realmente para o nosso bem.
Editora Thomas Nelson Brasil. 48 páginas. R$ 69,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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