Blog da Poesia

Anibal Machado

22/01/2025 09:56 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Anibal Machado nasceu em Sabará, Minas Gerais, em 1894. Faleceu em 1964. Foi contista, ensaista, professor, jornalista, tradutor e poeta bissexto.

Por mais que seus poemas expressassem ideias concretistas não pode ser considerada um escritor do movimento.

Machado participou como teórico da Semana de 22 e da Segunda Fase do Movimento Antropofágico. Em 1957, publicou Cadernos do João, obra que reúne crônicas, reflexões, imagens, parágrafos descontínuos e alguns poemas irônicos e humorísticos. 

Em seus últimos anos de vida, traduziu e adaptou para “o Tablado’’, grupo teatral amador textos e peças de importantes escritores, como o tcheco Franz Kafka, o francês George Bernanos e o russo Anton Tchekhov.

Seus poemas não são muitos, mas beiram um lirismo inteligente, de pensamento rápido, retratando temas existenciais e a realidade social brasileira. 

Ficara o galo, sobrevivência da ruína.
Rouco o seu canto. Canto que não parecia mais de galo, senão a própria voz da casa abandonada. Casa rachada ao sol, aluindo-se ao vento de chuva.
Não mais agora figuras humanas entrando; apenas lagartixas e morcegos para recepção às sombras.
Casa rouca submersa no matagal, teu galo ficou. E seu canto perdeu o timbre de sol, já não inaugura os dias. E se fez adequado aos estragos do reboco, à podridão das esquadrias – última secreção de pareces gemidas.
Galo rouco. Casa rouca. 

Última Carta de Pero Vaz
Digo a Vosmecê que no fim da planície há um gigante fumegando.
Uma viúva sem consolo e um pássaro conversível
Debaixo das árvores
Os suicidas vomitam o retrato da amada
Os bichos roem o código das águas
No caminho do mar as pedras não respondem
Vive-se a combinar a linguagem dos homens|
Com os traços imerecidos
Da sombra deles na poeira
Nas grandes linhas adutoras
Passam fora do horário
Invisíveis cavalos
Não é segredo
Que por elas fugiram os principais culpados
Daquele crime ao crepúsculo
De que hei falado a Vosmecê.
Dentre mais coisas que vi
Há que notar
No solstício de verão
Prateleiras de luz se derramando no céu
E na posta-restante
Um ventre de mulher
Com o sobrescrito apagado
São tão compridas as distâncias
Que os cavalos se fundem no horizonte
O horizonte ao jóquei
E o jóquei ao vento
Há um violão escondido na garoa
E uma moça fugindo dentro do violão
Seus brincos são dois ninhos de passarinho
Há um foco de generais
Ao pé de uma bananeira
Uma rainha se banhando na cascata
Cifras de um cálculo abandonado
Transformadas em colônia de formigas
Debaixo das areias
Há um cassino-iceberg
Que desce devagar
Para os mares do sul
Há uma nuvem metida em aparelho de gesso
Diversas virgens coloridas gemendo
Sob o cascalho de aluvião
Há um som corrosivo de sino
Atacando os profetas de pedra
Uma planície em disparada
Com os bois fora de prumo
Um sol de metamorfoses
Um rio morrendo de cansaço
E navios de sombra
A navegarem pela floresta
Procurando-se bem
Nota-se ainda
Uma coluna de vapor e pasmo
Que vem subindo há milênios
E há a vida em geral
Que é servida e ninguém quer…

 

 

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