Blog dos Livros
As violências da sociedade
O novo livro do escritor Whisner Fraga, “Fomes inaugurais” (Editora Sinete, 90 páginas), retrata a aspereza cotidiana e a desumanização de quem vive na rua. Com contos curtos e cenas indigestas, a obra sai do lugar-comum ao dar voz a quem está deitado no papelão e, neste contexto, violências e indignidades veladas ficam expostas e escancaram as hipocrisias da sociedade atual.
Finalista do Prêmio Jabuti em 2023 na categoria conto, o autor volta ao gênero e apresenta ao leitor mais uma obra mordaz e audaciosa. A motivação para escrever o livro veio de uma experiência pessoal, segundo o autor, quando membros do condomínio em que mora queriam expulsar um casal que ocupava a calçada em frente ao local.
Neste quadro, “Fomes inaugurais” perpassa temas delicados da condição humana como os julgamentos sociais, a injustiça, a maldade, mas também aborda o contraponto como empatia e o espírito colaborativo para a sobrevivência em um ambiente hostil.
Trata-se do sétimo livro de Whisner Fraga e o terceiro dedicado aos minicontos. Cada história, que, num primeiro momento, parece isolada, revela uma cena que compõe uma paisagem maior e mais complexa. Essa configuração narrativa, com a aposta em textos pequenos, diretos e que se relacionam, contribui para fomentar o interesse do leitor a seguir em frente e compor o quebra-cabeça com as peças fornecidas a cada conto.
Whisner nasceu em Ituiutaba, cidade do interior mineiro, e atualmente mora na cidade de São Paulo. Sua formação acadêmica é singular: engenharia mecânica, mestrado em engenharia mecânica, doutorado em engenharia mecânica, pedagogia e tecnólogo em marketing digital.
Estreou no universo literário em 1997 com “Seres e sombras.” Sua obra seguinte, “Coreografia de danados," de 2002, foi publicada por meio do Prêmio Galo Branco. Desde então lançou mais de uma dezena de livros, com destaque para o finalista do Prêmio Jabuti, em 2023, “Usufruto de demônios.”
Além da escrita, o escritor conecta-se com o público também por meio do canal do Youtube, “Acontece nos livros,” que tem mais de 16 mil inscritos e dezenas de vídeos publicados. No espaço virtual faz resenha de livros, dá dicas e também conversa com outros autores.
Trecho:
“mendigo é diferente de morador de rua e pessoa em situação de rua é pior, morador de rua escolhe morar na rua, e pessoa em situação de rua pousa no abrigo, sem o cachorro, pois não recebem bichos lá, e vários têm animais de estimação, ah, esses eufemismos burgueses, a classe média esclarecida complica, essas pautas e bandeiras identitárias, essa esquerda pensante, eles se preocupam com as refeições, com a diarreia, a queimação, o corte do cabelo, a temperatura, as agressões, os assassinatos, estão se lixando se dormem na rua ou no asilo ou o modo que são denominados, dependendo do lugar em que pernoitam.”
(página 34)
MARCELO RUBENS PAIVA I
O escritor Marcelo Rubens Paiva escreveu “Ainda estou aqui,” que virou filme consagrado com direito a Oscar 2025, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres. No livro, Marcelo conta a história do desaparecimento de seu pai,
Rubens, durante a ditadura militar brasileira, e a luta da mãe, Eunice, para cuidar sozinha dos cinco filhos e se tornar uma defensora dos direitos indígenas até enfrentar o Alzheimer.
MARCELO RUBENS PAIVA II
Em abril deste ano, com selo da Editora Alfaguara, deve sair o seu próximo livro, “O novo agora,” em que conta a sua história como adulto, em meio a recordações sobre a sua família, memórias de infância e relatos de seu pai e de sua mãe. Ele desenha um retrato complexo de uma família atravessada por crises, incerta quanto ao futuro, o boicote da direita que sobe ao poder no país, a pandemia e a educação de seus dois filhos.
Leituras:
“A literatura é essencialmente solidão. Escreve-se em solidão. Lê-se em solidão e, apesar de tudo, o ato de leitura permite uma comunicação entre dois seres humanos.”
(Paul Auster, 03 de fevereiro de 1947/30 de abril de 2024, escritor norte-americano, autor de best-sellers, como “O Livro das Ilusões,” “A Noite do Oráculo” e “A Música do Acaso.”).
Destaques:
SAUDADE DE CASA: RELATOS DE UMA DESENCAIXADA
Autora: Thassiane Goulart
Mesclando crônicas, contos e ensaios, esta obra é uma exploração emocional e filosófica sobre temas como solidão, inadequação e a busca por um sentido em um mundo que muitas vezes parece hostil. Nascida em abril de 2002 e criada no bairro de Interlagos, na capital paulista, Thassiane diz neste seu primeiro livro que encontrou na escrita uma forma de lidar com as dores do cotidiano e a transição para a vida adulta.
Editora Minimalismos. 134 páginas.
O CANTO DA ESTRELA DALVA
Autora: Carla Paiva
O livro transporta o leitor para o sertão do vale do Jaguaribe, mais precisamente na cidade de Iracema, Ceará, entre os anos de 1922 e 1924, período marcado por uma das maiores secas da região. A obra narra a história de Aparecida, uma mulher que enfrenta as adversidades de um ambiente hostil e as amarras de uma sociedade patriarcal, encontrando na sororidade e na força interior os meios para superar os desafios.
Editora Patuá. 145 páginas.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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