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Carlos Drummond de Andrade, no meio do caminho
ANÁLISE DO POEMA:
Assim que publicado, o poema No Meio do Caminho foi profundamente criticado pela sua simplicidade e repetição. Com o passar do tempo, os versos foram sendo compreendidos pelo público e pela crítica. Atualmente o poema é uma espécie de cartão postal da obra de Carlos Drummond de Andrade.
Uma das teorias sobre a gênese do poema remonta para a própria biografia de Drummond.
Drummond se casou em fevereiro de 1926 com Dolores Dutra de Morais. Um ano depois nasceu o primeiro filho do casal: Carlos Flávio. Por uma tragédia do destino, o menino sobreviveu apenas por meia hora.
‘’Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas".
Essa frase sintetiza e aponta para esse fatídico e triste acontecimento.
No poema encontramos a presença de uma figura de linguagem chamada HIPÉRTESE.
A hipértese consiste basicamente na troca de ordem de letras nas palavras.
Alguns estudiosos sublinham o fato da palavra pedra conter as mesmas letras da palavra perda.
O poema teria sido então uma espécie de homenagem, tributo ao filho.
“No meio do caminho tinha uma perda’’.
Outra forma de análise relaciona o poema como resposta contrastiva ao parnasianismo.
No Meio do Caminho é uma criação que dialoga com o soneto Nel mezzo del camin..., escrito pelo poeta parnasiano Olavo Bilac.
Nel Mezzo del camin ... [no meio do caminho]
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
O soneto de Olavo Bilac, tal qual o poema de Drummond também usa o recurso da repetição.
A criação de Drummond é uma espécie de deboche e ironia a poesia parnasiana. O poeta modernista faz uso de uma linguagem simples, cotidiana, clara, através de uma estrutura sem rima, musicalidade ou métrica.
Muitos teóricos interpretam que a pedra no meio do caminho de Drummond eram os parnasianos, que impediam o desenvolvimento de uma arte acessível e inovadora.
Tanto Drummond quanto Olavo Bilac criaram os seus poemas inspirados na mais famosa criação do italiano Dante Alighieri, autor de A divina comédia.
A frase “No meio do caminho” é um verso presente no canto I do importante obra do autor.
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