Blog do Mistério

Cemitério dos Barbosa: uma lenda de Caçapava

12/09/2024 09:00 - por Gisele Wommer giwommer@gmail.com

Contam que aconteceu em Caçapava do Sul, em 1820. Maruca Fillis era uma estancieira viúva e riquíssima. Tinha um único filho, jovem, que havia se engajado em guerrilhas na campanha da Banda Oriental, ao lado de Bento Gonçalves. Seu varão, seu herdeiro, o sucessor de sua família. Considerado herói de guerra o rapaz era conhecido por toda a região. Tal qual também era conhecida sua mãe, por sua rigidez e severidade.

A fruta não caiu longe do pé, pois o filho também demonstrou a mesma teimosia quando se recusou a ouvir os nomes das moças de família que ela lhe ofertava em casamento. Seu coração já tinha dona, estava enamorado da filha do Barbosa, uma moça cujos comentários sobre a beleza chegavam a outras querências.

Maruca jamais aceitaria o casamento do filho com a moça, pois a família era extremamente pobre e Barbosa vinha a ser um dos seus empregados. Queria para o seu filho uma moça de classe, foi bem assim que os atritos sérios começaram entre os dois.
Dizem que, certa feita, enquanto o filho encilhava o cavalo para ir a um fandango onde encontraria sua amada, Maruca o desgraçou:

— Prefiro ver-te morto, entre quatro velas, do que casado com aquela rameira!

Ora falamos, ora profetizamos. O desejo da mãe se cumpriu. Quando regressava do fandango o rapaz foi atacado por uma onça-parda. Acabou caindo do cavalo e sua montaria seguiu trotando solita, banhada em sangue, até a estância.

Ao amanhecer os escravos encontraram o cavalo encilhado, sujo e inquieto. Sem sinal do patrão, foram campear por ele e encontraram seu corpo, retalhado pelo ataque do animal. Maruca, amargurada pela desobediência do filho, nem fez questão de lhe dar um funeral descente. Mandou que os escravos o enterrassem assim, como encontraram, bem onde ele estava.

A filha do Barbosa ia todos os dias até o túmulo. Deixava flores junto com seu pranto, devastada pela perda de seu grande amor, ela não resistiu por muito tempo. Era comum morrer de amor naquelas épocas. Poucos meses após a morte do rapaz, ela também faleceu, deixando sua família desolada. Antes de morrer, ela havia feito um último pedido: ser enterrada ao lado do seu amado, queria estar junto a ele, pelo menos após a morte.

A jovem foi sepultada ao lado do rapaz que nunca chegou a ser seu marido. Com o tempo, os túmulos dos dois se tornaram um local de visitação para aqueles que conheciam sua história. A paixão trágica que os uniu em vida e em morte passou a ser lembrada por gerações.

Assim, o lugar onde eles foram enterrados teria dado origem ao que hoje é conhecido como Cemitério dos Barbosa, um local que nasceu da força de um amor proibido e que, ao longo dos anos, se tornou o descanso final de muitos membros da família e de outros moradores da região.

 

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