Blog dos Livros
Contos de Kafka
Considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX, o boêmio de língua alemã Franz Kafka morreu em 3 de junho de 1924 e, para marcar o centenário, está sendo lançado o livro “Contos finais escolhidos” (128 páginas, R$ 61,00), com 20 textos curtos do autor, escritos entre 1919 e 1924.
A obra revisita a inquietude que permeou a vida de Kafka. A rigor, os textos deste livro não deveriam estar disponíveis ao público, já que Kafka determinou em testamento que fossem destruídos, mas seu amigo escritor Max Brod desobedeceu a ordem e, inclusive, deu título à maioria dos trabalhos póstumos.
Em “Contos finais escolhidos,” os textos apresentam as características do mundo kafkiano, como a apreensão perturbada do mundo em “A noite” e “O grande nadador,” ou as relações sociais em “O recrutamento das tropas” e “Uma pequena mulher.” A crítica à burocracia aparece no conto “Sobre a questão das leis” e “Intercessores” e as evocações à mitologia grega em “Prometeu” e “Poseidon.” Em todos, é visível a sensibilidade delirante e a curta separação entre o real e o surreal.
Nascido em 1883, Kafka formou-se em Direito em 1906 e, após um ano de serviço como atendente legal em cortes civis e criminais, passou a atuar como investigador em uma companhia de seguros. Em 1911, tornou-se sócio da primeira fábrica de amianto de Praga, trabalho que acabou interferindo em seu tempo que dedicava à escrita.
Kafka dedicava-se à leitura de autores como Dostoiévski, Flaubert, Gógol e Goethe. Além da literatura tcheca, veio a se interessar também pelo teatro ídiche, o que o fez mergulhar na língua e na literatura dessa cultura com a qual tinha contato por conta de suas raízes judaicas.
Em suas obras, pode-se notar temas como alienação social, ansiedade existencial, com frequente apelo ao absurdo, personagens com missões aterrorizantes, labirintos burocráticos e transformações místicas. Ao longo da vida, relacionou-se com algumas mulheres, mas nunca chegou a se casar. Em 1917, foi diagnosticado com tuberculose, doença incurável à época. Em abril de 1924, com a condição crítica da doença, foi buscar tratamento em uma cidade próxima a Viena, onde veio a falecer.
Suas obras mais famosas são “A Metamorfose,” “O processo,” “O Castelo,” e “Cartas a meu pai.” É famosa também a expressão “pesadelo de Kafka,” que remete a um estado desesperador vivido por um homem nu. No conto, o homem enfrenta um pesadelo, pois está nu, sem poder entrar em sua casa, em estado de loucura, pois vai ser descoberto a qualquer momento e ficará para sempre desmoralizado.
Trecho:
“Eu retornei, atravessei o pátio e estou olhando à minha volta. Trata-se da antiga herdade do meu pai. A poça no meio. Equipamentos enroscados, velhos e inúteis, bloqueiam o caminho para a escada do sótão. A gata espreita sobre o corrimão. Um pano rasgado, enrolado à toa em volta de um palanque, ergue-se ao vento. Cheguei. Quem me receberá? Quem espera atrás da porta da cozinha? Sai fumaça da chaminé, preparam o café da tarde. Você percebe aconchego, sente-se acolhido? Já não sei, estou bem inseguro. Sim, é a casa do meu pai, mas há objetos frios lado a lado, como se cada um estivesse ocupado com seus próprios assuntos que eu meio esqueci, meio nunca cheguei a conhecer.”
(página 21 – “Retorno a casa”)
TOM FARIAS NA ABL
O escritor Tom Farias, membro da Academia Carioca de Letras, autor de 18 livros e finalista do Prêmio Jabuti, é candidato a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), antes ocupada pelo poeta Antônio Cicero, falecido na semana passada. Também jornalista e colunista da Folha de São Paulo, Tom Farias poderá vir a ocupar a cadeira 27, fundada por Joaquim Nabuco.
MIRIM LEITÃO INTELECTUAL DO ANO
A jornalista e escritora Míriam Leitão foi agraciada com o “Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano de 2024,” na 4ª. Edição do Festival Literário Internacional de Itabira. Nascida em Caratinga, Minas Gerais, exerce o jornalismo há 40 anos. Em 1972, quando estava grávida, foi presa e torturada física e psicologicamente pela ditadura militar brasileira. Tem onze livros publicados.
Leituras:
“Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”
(Cora Coralina, 20 de agosto de 1889/10 de abril de 1985, poetisa e contista brasileira, considerada uma das mais importantes escritoras do país, com seu primeiro livro publicado em junho de 1965, quanto tinha 76 anos de idade, apesar de escrever desde a adolescência).
Destaques:
SIM À VIDA
Autor: Jorge Rosa
Primeiro livro de poesias deste poeta, escritor, oficineiro de artes e cartazes para adolescentes, nascido em Cachoeira do Sul em 1957, em que apresenta aos leitores as emoções do dia a dia, os amores desgovernados e simples que são encontrados nas ruas e vielas do cotidiano. É coautor nas “Coletâneas Poemas à Flor da Pele,” “Revista Escribas” e edições do “Poetas do Vale.” Jorge Rosa atualmente reside em Porto Alegre.
Editora Somar. 59 páginas. R$ 40,00.
DE OLHO EM VOCÊ
Autora: Amy Lea
O livro conta a história de Crystal Chen, uma influenciadora digital que tem o corpo fora do padrão e construiu a carreira lutando contra os estereótipos do mundo fitness. Após o fim do seu último namoro, ela está sem nenhuma paciência para os homens, e seu único refúgio passa a ser a academia, seu templo de autoestima e positividade. Até que Scott se matricula no mesmo lugar. Nascida no Canadá, Amy Lea escreve comédias românticas engraçadas que contêm protagonistas poderosas, diálogos inteligentes, referências à cultura pop dos anos 2000 e finais felizes.
Editora Arqueiro. 317 páginas. R$ 59,90.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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