Blog da Poesia
Cora Coralina e a poesia do cotidiano
Poetisa brasileira nascida em Goiás, Cora ficou conhecida como a "escritora das coisas simples". Além de poemas, ela escreveu contos e obras de literatura infantil. Sua poesia tem como grande característica os temas cotidianos.
Publicou seu primeiro livro quando tinha 75 anos e tornou-se uma das vozes femininas mais relevantes da literatura nacional.
Em termos literários, é espantoso como uma mulher que cursou até a terceira série do curso primário tenha criado versos tão preciosos e profundos.
Para ganhar a vida, Cora Coralina trabalhou como doceira enquanto levava a escrita como um hobby paralelo. A poeta chegou inclusive a ser convidada para participar da Semana de Arte Moderna, mas não pôde se juntar aos seus pares devido às limitações impostas pelo marido.
Sua produção escrita baseou-se nas miudezas do dia a dia e ficou caracterizada por uma delicadeza e por uma sabedoria de quem passou pela vida e observou com atenção e perspicácia cada detalhe do caminho...
Mulher da vida
Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.
De todos os povos.
De todas as latitudes.
Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:
Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.
Mulher da vida,
Minha irmã.
Meu Destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...
Encontrou algum erro? Informe aqui
Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos