Blog dos Livros
Dores em meio a desigualdades
Duas famílias distintas. Uma de classe média alta e outra de periferia. Em uma delas, um casal de elite com seus dois filhos, a típica família perfeita para os que veem de fora. Na outra, um casal de periferia que luta para conseguir pagar os medicamentos da mãe de um deles. Este é o ponto de partida do breve romance “cicatriz” (112 páginas), do escritor mineiro Breno Ribeiro, recém-lançado pela Caravana Editorial.
Atualmente vivendo no Rio de Janeiro, o autor é formado em Letras e professor de Língua Inglesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrado em Estudos da Linguagem na PUC-Rio e um curso livre de Formação em Roteiro pela Academia Internacional de Cinema do Rio. Breno traz em seu segundo romance uma história que reúne três dos mais imponentes sentimentos humanos: a justiça, a vingança e a culpa. Através da história de poucos mas inesquecíveis personagens, retrata um quadro não incomum em nossa sociedade.
Estruturada em três partes, “cicatriz” acompanha duas histórias paralelas: de um lado, a família de Júlia e Humberto, com seus filhos Ana Lúcia e Pedro. De classe alta, a família passa por desentendimentos de ordem sociopolítica: o pai, de extrema-direita, não aceita a filha lésbica, enquanto o filho, recém admitido na universidade, passa a ser o foco de atenção do casal. Do outro lado, Pietro e Fabiana são um casal de periferia que esperam um filho enquanto precisam lidar com a doença da mãe de Pietro. Diante da gravidade do caso, Pietro se vê praticando pequenos crimes para conseguir pagar os remédios e a internação da mãe.
Perante os dilemas éticos que vivem os personagens, “cicatriz” traça um panorama bastante complexo do sistema judiciário brasileiro, em que a justiça nem sempre significa reparação dos danos causados e a prisão não é capaz sequer de aplacar os desejos de vingança das classes privilegiadas.
Influenciado por autores clássicos como Machado de Assis, Mary Shelley e Gustave Flaubert, Breno nasceu em Juiz de Fora e cresceu na cidade de Iguaba Grande, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Aos 35 anos, morando no Rio, lançou em 2021, em plena pandemia, seu primeiro romance em formato digital, o policial “O Príncipe de Hugo Porto.”
Após “cicatriz,” o autor já pensa em escrever seu próximo livro, que vai se chamar “Limbo,” que conta a história de um casal que se separa, mas, por questões presentes no capitalismo tardio, são obrigados a morar junto por um tempo até cada um ir para o seu canto.
Trecho:
“Um mundo melhor não é um mundo sem crime, mãe, isso é uma utopia. Um mundo melhor é um mundo onde as pessoas cometam erros e possam ter a chance de crescer a partir deles. É nisso que eu acredito.”
(página 89)
MENOS LEITORES
Mais completa e aprofundada pesquisa sobre os hábitos de leitura do brasileiro, a Pesquisa Retratos da Leitura, em sua edição 2024, lançada na última semana, trouxe a preocupante informação de que nos últimos quatro anos houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. A pesquisa apontou também que 53 por cento da população não leram nem parte de um livro, de qualquer tipo, nos últimos três meses anteriores à pesquisa.
PRÊMIO JABUTI
No último dia 19, foram divulgados os vencedores da 66ª. Edição do Prêmio Jabuti, um dos mais consagrados da literatura brasileira. O Prêmio de Livro do Ano foi dado à obra “Sempre Paris: crônica de uma cidade, seus escritores e artistas,” de Rosa Freire D’Aguiar, jornalista, escritora e tradutora. Ela foi casada com o diplomata Celso Furtado, que morreu em 20 de novembro de 2004 e que foi ministro do ex-presidente Sarney e integrou a Academia Brasileira de Letras.
Leituras:
“Os professores são heróis anônimos, meu amigo. Trabalham muito, ganham pouco. Semeiam sonhos numa sociedade que perdeu a capacidade de sonhar.”
(Augusto Cury, nascido em 2 de outubro de 1958, psiquiatra, professor e escritor brasileiro, autor da Teoria da Inteligência Multifocal e Inteligência Multifocal, com mais de 25 milhões de livros vendidos somente no Brasil).
Destaques:
A VEGETARIANA
Autora: Han Kang
A sul-coreana Han Kang, 54 anos, foi a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2024, pela intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana, conforme anunciado pela Academia Sueca, em Estocolmo. “A vegetariana” é considerado um dos livros mais importantes da ficção contemporânea, em que a autora conta uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo.
Editora Todavia. 176 páginas. R$ 69,90.
POEMAS PARA ANTES DO BANHO, DURANTE O CAFÉ E DEPOIS DO ABANDONO
Autora: Mila Nascimento
Segundo livro da médica e escritora paulistana Mila Nascimento, aborda, sob a ótica do cotidiano, o processo de reconstrução da subjetividade de um eu-lírico feminino violentado. Composto por 31 poemas, a obra conta com o prefácio assinado pelo premiado escritor e historiador paraense Airton Souza, que venceu o Prêmio SESC de Literatura em 2023.
Editora Patuá. 61 páginas.
(As obras apontadas no Blog dos Livros podem ser encontradas junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho, 1423, Cachoeira do Sul)
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