Blog da Poesia

Fagundes Varela e o Cântigo Do Calvário

26/02/2025 09:10 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Fagundes Varela é um autor da segunda geração romântica no Brasil, também chamada de Ultrarromantismo. Tal geração ficou conhecida por produzir poesias marcadas pela fuga da realidade, já que, para seus poetas, a vida tinha algo de insuportável e extremamente denso. Por esse motivo, havia certo desejo pela morte, temática comum em seus textos, carregados de pessimismo e morbidez. 

O egocentrismo foi uma questão recorrente nos ultrarromânticos, fato que os levou a produzir textos de um sentimentalismo exagerado com fortes nuances tédio, melancolia e intrínseca e ininterrupta busca pelo sentido da existência. 

Fagundes Varela foi membro da ABL, sua cadeira foi de número 11.

Cântico do calvário foi um de seus poemas mais significativos. 

A obra pertence ao livro  Cantos e fantasias, possui versos decassílabos, uma referencia ao Parnasianismo, estilo condizente com a época. 

Trata-se de um poema onde aborda elementos religiosos em consonância com o exagero sentimental, a morbidez, o pessimismo e a melancolia.

Nesse referido poema, Fagundes Varela presta uma homenagem a seu filho, Emiliano, que morreu com três meses de vida.
Dessa forma, o eu lírico idealiza a existência do filho, pois o compara à pomba da esperança, a uma estrela, à colheita (“messe de um dourado estio”) e ao idílio de amor. 

Mas, em seguida, a voz poética se mostra pessimista:
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!

[...]

Não mais te embalarei sobre os joelhos,
Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Acharei um consolo a meus tormentos!
Não mais invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
Era um polido espelho de esmeralda
Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!
Não mais perdido em vaporosas cismas
Escutarei ao pôr do sol, nas serras,
Vibrar a trompa sonorosa e leda
Do caçador que aos lares se recolhe!

O eu lírico presente no poema se entrega à dor e percebe que se tornou “o eco das tristezas todas”. 

E conclui: “Por toda a parte em que arrastei meu manto/ Deixei um traço fundo de agonias!...”. Além do mais, seu sofrimento é acentuado pelo saudosismo:
Ah! quando a vez primeira em meus cabelos
Senti bater teu hálito suave;
Quando em meus braços te cerrei, ouvindo
Pulsar-te o coração divino ainda;
Quando fitei teus olhos sossegados,
Abismos de inocência e de candura,
E baixo e a medo murmurei: meu filho!

A voz poética diz que a morte do filho foi um castigo pelos atos de soberba do pai:

Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!
E de meu erro a punição cruenta
Na mesma glória que elevou-me aos astros,
Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

Porém, afirma que a criança lhe deu inspiração, alegria e esperança para o futuro:

E eu dizia comigo: — teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, mais triunfante
Que o sol nascente derribando ao nada
Muralhas de negrume!... Irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

No mais, o eu lírico também se agarra ao pensamento de que a morte não existe:

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquece!

Dessa forma, a voz poética se reconforta com a ideia de que existe vida após a morte:

[...]! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacob serão teus raios
Por onde asinha subirá minh’alma.

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