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Gabriela Mistral

08/01/2025 09:51 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Gabriela Mistral foi o pseudônimo de Lucila de Maria del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga.

Ela nasceu em 1889, em Vicuña, Norte do Chile, no dia 7 de abril. 

Foi poetisa, educadora e diplomata.

Primeiro nome da América Latina a vencer o Prêmio Nobel de Literatura. 

Era filha de um professor, descendente de espanhóis e índios. Desde cedo, demonstrou um interesse duplo: tanto pela escrita quanto pela docência.

Com 16 anos decidiu se dedicar à carreira de professora. Quando estava com 18 anos, seu namorado se suicidou, fato que marcou sua vida e sua futura obra literária. 

Carreira literária
Em 1914, quando tinha 25 anos, ganhou um concurso de poesia nos Juegos Florais de Santiago, com “Sonetos de La Muerte” – Nesta época - começava a nascer “Gabriela Mistral”, nome criado em homenagem aos poetas que ela admirava: o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral.

Em 1922 publicou seu primeiro livro de poesias, “Desolación”, que incluiu o poema “Dolor”, no qual fala do suicídio de seu namorado.

Prêmio Nobel de Literatura
Em 1945, Gabriela Mistral recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, se tornando o primeiro nome da América Latina a vencer essa premiação – na época, morava em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

O Prêmio Nobel a transformou em figura de destaque na literatura internacional e a levou a viajar pelo mundo e representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas.

Logo que chegou ao Brasil, fez amizade com Cecília Meireles e juntas lançaram um livro de poemas. Fez amizades literárias com Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Assis Chateaubriand e seu predileto, Vinícius de Moraes. Conheceu Mário de Andrade através de Cecília. Nessa época, escreveu para o Jornal do Brasil.

Poeta
A poesia de Gabriela Mistral é única, mística e repleta de imagens singulares e de lirismo. Seus temas centrais são: "o amor pelos humildes, memórias pessoais dolorosas, as mágoas e um interesse mais amplo por toda a humanidade." Entre seus poemas destacam-se: Gotas de Fel, Dá-me Tua Mão e Eu Não Sinto a Solidão.

RIQUEZA
Tenho a benção fiel
 e a benção perdida:
a primeira como rosa;
a outra como espinho.
Do que me roubaram
não despossuída:
tenho a benção fiel
 e a benção perdida,
e estou rica de púrpura
e de melancolia.
Ai! que amada é a rosa
e que amante o espinho!
Como o contorno duplo
das frutas gêmeas,
tenho a benção fiel
e a benção perdida...

Somos culpados de muitos erros e muitas falhas,
mas nosso pior crime é abandonar as crianças,
desprezando a fonte da vida.
Muitas das coisas que precisamos podem esperar.
A criança não pode.
É exatamente agora que seus ossos estão se formando,
seu sangue é produzido, e seus sentidos estão se desenvolvendo.
Para ela não podemos responder "Amanhã"
Seu nome é "Hoje".

O Pensador de Rodin
Apoiando na mão rugosa o queixo fino,
O Pensador reflete que é carne sem defesa:
Carne da cova, nua em face do destino,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza.
E tremeu de amor; toda a primavera ardente,
E hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza.
O havemos de morrer passa-lhe pela mente
Quando no bronze cai a noturna escureza.
E na angústia seus músculos se fendem sofredores.
Sua carne sulcada enche-se de terrores,
Fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte
Que o reclama nos bronzes. Não há árvores torcida
Pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
Crispados como este homem que medita na morte.

I. Amarás a beleza, que é a sombra de Deus sobre o Universo.

II. Não há arte atea. Embora não ames ao Criador, o afirmarás criando a sua semelhança.

III. Não darás a beleza como isca para os sentidos, se não como o natural alimento da alma.

IV. Não te será pretexto para a luxuria nem para a vaidade, se não exercício divino.

V. Não buscarás nas feiras nem levarás tua obra a elas, porque a Beleza é virgem, e a que está nas feiras não é Ela.

VI. Subirá de teu coração a teu canto e te haverá purificado a ti o primeiro.

VII. Tua beleza se chamará também misericórdia e consolará o coração dos homens.

VIII. Darás tua obra como se dá um filho: tirando sangue de teu coração.

IX. Não te será a beleza ópio adormecido, se não vinho generoso que te estimula para a ação, pois se deixas de ser homem ou mulher, deixarás de ser artista.

X. De toda a criação sairás com vergonha, porque foi inferior a teu sonho e inferior a esse maravilhoso Deus que é Natureza.
Gabriela Mistral

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