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Jorge de Lima

16/04/2025 09:56 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Nascido em União dos Palmares, Alagoas, em 1893, foi um intelectual dinâmico: historiador, pintor, fotógrafo, ensaísta, biógrafo e poeta. Sua estreia na poesia se deu aos 21 anos de idade, com o livro XIV Alexandrinos, extremamente elogiada pela critica literária da época. O acendedor de lampiões, poema de destaque da obra, foi escrito quando Jorge de Lima tinha apenas 14 anos e ainda estava na escola. 

Seu livro de estreia foi publicado em 1914, antes da semana de 22, portanto, não se tratava de uma obra modernista. Pelo contrário, em seus primeiros versos, o poeta alagoano estava bastante envolvido com a estética parnasiana, caracterizada pela valorização da forma, pela escrita objetiva e pela preferência por sonetos. Um dos autores que mais influenciaram a produção de Jorge de Lima foi um dos maiores parnasianos, Olavo Bilac. Dentro da perspectiva parnasiana, O acendedor de lampiões, foi composto em versos alexandrinos, ou seja, com 12 sílabas poéticas, acomodados dentro da estrutura de dois quartetos e dois tercetos.

 No entanto, os anos se passaram e a semana da arte moderna chegou. Os artistas brasileiros, de um modo geral, produziram inspirado nas transformações políticas, sociais, culturais e artísticas. Com Jorge de Lima, não foi diferente.

 Jorge de Lima passou a integrar o movimento modernista a partir da sua segunda fase, ou então, fase de consolidação. 

Em sua poesia, Jorge adotou um forte teor crítico e social, com base em temas que envolviam questões como a denúncia de preconceito. Outra característica importante foi a temática do negro na sociedade e as explorações para os mencionados preconceitos, além de temas como as desigualdades sociais e políticas. Um de seus livros mais importantes foi Poemas Negros.

Nesta obra, o autor explora a história dos negros no período colonial do Brasil, destacando a escravidão e o modo desumano como eles eram tratados. Poemas como Banguê e Essa negra Fulô são escritos dessa fase e retratam prioritariamente a condição do negro na sociedade tupiniquim. O autor também fez uso de inúmeras expressões e vocabulários de matriz africana em sua obra. Xangô é outro poema significativo do autor.

Em Mulher proletária, Jorge de Lima, enfatiza para a temática da mulher em dois contextos socioculturais: escravagista social e proletariado. 

Mulher proletária – única fabrica que o operário tem (fabrica de filhos)
Tu na superprodução da máquina humana, fornece anjos para o senhor Jesus,
Forneces braços para o senhor burguês (...)

No ano anterior a sua morte, Jorge de Lima, publica seu último livro, Invenção de Orfeu.

O livro faz referência a Orfeu, figura lendária da mitologia grega, conhecida pelo dom da música e da poesia. Segunda a mitologia, o canto de Orfeu, poderia encantar de pássaro a pedras, colocando-as para dançar. Orfeu era casado com Eurídice, que, ao ser picada por uma cobra, morre e vai para o inferno. A trajetória de Orfeu, então, é sua ida para o inferno a fim de resgatar seu amor. É a partir dessa figura mitologia que Jorge de Lima compõe sua obra, mas em uma perspectiva inversa; o Orfeu de Lima, vai do inferno para a vida, explorando o misticismo e o surrealismos, características que também foram preponderantes em sua produção escrita. 

O acendedor de lampiões
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: —
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões de rua!

 

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