Murilo Mendes foi um escritor brasileiro pertencente à segunda fase do modernismo no Brasil. Ele é considerado um dos mais relevantes poetas brasileiros do século XX. Em seus escritos, utilizou uma linguagem coloquial e os neologismos para compor seus textos. Murilo destacou-se pelo senso de modernidade. Seus poemas estão repletos de conteúdos originais e de imagens cotidianas, tingidas de surrealismo, linguagem religiosa e de preocupação com o social.

Murilo Mendes, assim como outros poetas modernistas, recusou as formas batidas e a poesia convencional. Uma de suas características mais marcantes, como mencionado antes, foi a influência surrealista.

Assim como nas obras de Salvador Dali, a criação de uma realidade paralela, com criação de cenas irreais e a valorização do inconsciente foram recorrentes e usuais em sua forma de composição. 

Cabe lembrar, que tal vanguarda, propunha representar não a realidade, mas o sonho. Os artistas surrealistas, influenciados por Freud, acreditavam que a realidade, de fato, era aquela que se manifestava através do sonho e do pesadelo. 

De um modo geral, as obras do poeta, trazem de forma preponderante questões sociais e existenciais. Outras características que lhe foram comuns e estão presentes em sua obra são ironia, o sarcasmo, os conflitos espirituais, o questionamento metafísico, a liberdade formal, a falta de lógica aparente, a reflexão da realidade brasileira e o caráter onírico. 

Entre todas as suas obras, a que lhe confere maior singularidade foi História do Brasil, publicado em 1932. 

Essa obra carrega traços da primeira geração modernista e retrata questões históricas, sociais e políticas, com humor, liberdade formal e uma clara, notória e evidente tentativa de fazer uma revisão critica ao nosso passado histórico. 

BREVE ANÁLISE DO LIVRO HISTÓRIA DO BRASIL, DE MURILO MENDES
Publicado originalmente em 1932, "História do Brasil", do poeta modernista Murilo Mendes, é um capítulo à parte na obra do autor. Tão à parte que quando se reuniu pela primeira vez o conjunto de suas obras poéticas, no livro "Poesias’’, o próprio autor preferiu deixar "História do Brasil" de fora, por considerar que ele destoava do restante de seu trabalho. A obra de Murilo é retratada com irreverência e malandragem lírica, sua escrita revela contradições sociais com inteligência, humor e sarcasmo. 

Haja vista o poema de dois versos, intitulado, Homo Brasiliensis", típico poema modernista, 

O homem 

É o único animal que joga no bicho... 

Ou ainda uma obra-prima como "Linhas Paralelas" que consegue captar, com imenso sarcasmo, o absurdo burocrático-administrativo de todos os governos brasileiros ... 

Um presidente resolve
Construir uma boa escola
Numa vila bem distante. 
Mais ninguém vai nessa escola: 
Não tem estrada para lá. 
Depois ele resolveu 
Construir uma estrada boa 
Numa outra vila do Estado.
 Ninguém se muda para lá 
Porque lá não tem escola....

"História do Brasil" também examina, debochadamente, as relações de favores que se estabelecem nos bastidores do poder, como fica escancarado em "Teorema das Compensações’’.

O bicheiro é vereador.

 Depende do presidente Da Câmara Municipal.

 O presidente é meio pobre,

Arrisca sempre na sorte,

 Ai! depende do bicheiro.

 O bicheiro ganha sempre

Na eleição pra vereador.

E “seu” presidente acerta

Muitas vezes na centena....

No entanto, a obra não se restringe a apresentar, ironicamente, a nação e seu povo como um todo, como se vê nos poemas acima transcritos. Ela também focaliza, sempre de forma sarcástica, episódios específicos de nossa história, que vão do descobrimento a questão dos Palmares, da inconfidência mineira a Guerra de Canudos, etc...

Neste sentido, torna-se quase que um pré-requisito para ler e entendê-la ler, conhecer nossa história, pois o humor e a ironia leve de seus poemas se baseiam em referências e alusões específicos a períodos ou episódios históricos, cujo desconhecimento pode tornar os poemas sem graça ou sem sentido.  

Outros poemas de Murilo Mendes