Blog da Poesia
Natal e Poesia
Nos países cristãos, como é o caso do Brasil, o mês de dezembro abre espaço para enfeites coloridos, com árvores, presépios e luzes, além do famoso e esperado Papai Noel. Toda essa alegoria serve de cenário para simbolizar o nascimento de Jesus Cristo. Independente da religião e da crença, a virada do dia 24 para o dia 25 é uma excelente e considerável oportunidade para renovar as energias e compartilhar as boas experiências. Natal é momento de reflexão, compaixão, afeto, bondade, entendimento e benevolência. Significa amor, renascimento... Viver é um milagre, uma dádiva. Que tenhamos harmonia e alegria. Saúde. Fé e esperança. E muita leitura e poesia. Que bons verbos sejam conjugados e que as palavras sejam sempre de sabedoria e encantamento.
Pinheiro de Natal
Meu pinheiro de natal é de plástico
não tem as raízes da natureza.
Meu pinheiro é desigual e mágico
foi enfeitado pelo consumismo.
Meu pinheiro de natal está vazio
O verde da esperança já desbotou,
nele pendurei todos os meus falecidos
e o pranto é única verdade que brotou.
Neste natal não armei o pinheiro antigo,
mas plantei uma árvore no jardim
Prefiro a vida respirando comigo...
o ano inteiro sem temer o fim.
Cleiton leal
É Natal outra vez
Neste eterno renascer
Perdoando e errando
Cada um sabe o que fez...
Brigamos por política
Enganamos as verdades
Voltamos ao início
A final é natividade...
Cantamos as mesmas canções
Presenteamos até os inimigos
Pedimos novas paixões
Esquecemos os amigos...
Somos santos e pecadores
Buscando a salvação
Como se o Natal sozinho
Limpasse o encardido coração
Que passa o Ano inteiro
Com mais sonho do que ação
E joga palavras morteiros
A todo e qualquer irmão!
Depois ajoelha frente ao altar
Jura nunca mais errar
E quer Natal e muita bênção...
Neste vai ser diferente:
Não vamos a casa enfeitar!
Vamos mudar o coração da gente
E em Natal se transformar!
Mara Garin
Final de dezembro
Celebramos o nascimento
De centenas de meninos
Que quase vivem, quase morrem,
Quase ressuscitam... E nós, ocupados
Com fogos de artifício, presépios,
E presentes, quase nos comovemos.
Magali Vidal Domingues
Natal
Natal é um postal
Na sua perfeição.
Para uns: Um postal normal,
Cheio de cor;
De musicalidade;
De harmonia;
De sentimento!
Para outros:
Um postal sem mensagem;
Um postal nu de imagem;
Um postal rasgado, deteriorado;
Um postal sem compreensão;
Um postal na imensidão
Do vazio!
Natal é uma tradição.
Para uns, com bolo-rei;
Ou com bolo-rainha.
Com lombos de bacalhau.
Para outros, com bacalhau com espinha.
Ou com a esmola da vizinha.
Natal é a época do frio.
Uns aquecem-se no calor
Da lareira, do ar condicionado…
No quentinho do edredom
Outros, do cobertor esburacado
Estendidos no chão
Preenchido por uma imensidão
Do nada no meio do tudo!
De uma mensagem do mudo.
Do tudo no meio do nada
De uma mensagem sem fada.
Enio Santos
Luzes da cidade
Às luzes, Papai Noel,
São nosso jeito
De chamar à alegria
São nossa prece
Para que a pureza volte...
São nossa forma
De espantar a hipocrisia
Ódio, mentira ou inveja
Habitantes das sombras
São nossa maneira
De buscar a infância
São tentativas de esconder
Miséria e dor.
Vamos manter as lâmpadas
Acesas até que chegues
No teu carrinho do céu
E derrames sobre nós
A bênção do amor
E reacendas em cada coração
A chama da fraternidade.
Ely Marciniak
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinícius de Moraes
Chove. É Dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
ENTÃO É NATAL
Pinheiro verde
prateado ou dourado
a cor pouco importa.
Deve estar enfeitado
bolas e fitas coloridas.
Anjos feitos de rezina
tecido ou papel.
Beleza delicada
nos galhos depositados
esperando Papai Noel.
Presentes raros
baratos ou caros
( já estarão pagos?)
Presépio solitário
avisa o nascimento...
de quem mesmo?
Ah...do Menino Jesus,
nosso Redentor
muitas vezes esquecido
mas para nos salvar,
um dia morreu na cruz!
Neícla Bernardes
Poema 2
Compras são feitas,
A cidade se enfeita,
Se enche de luz.
Amigos lembramos,
Presentes trocados,
O comércio seduz.
O rico confia,
O pobre só espia.
É o poder que
Conduz.
Mas o que é o Natal?
O que pensas, mortal?
Onde tu colocas Jesus?
O que é que foi feito
Com o Filho Eleito,
Com o sacrifício na cruz?
O mundo apodrece,
O indigente padece,
O homem esquece Jesus.
Elisabete Fogliarini
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Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos