O livro de  estreia  da psicanalista, socióloga, documentarista e  apresentadora  Ingrid Gerolimich, “Para revolucionar  o amor: a  crise do amor romântico e o poder da amizade entre as mulheres” (Editora Claraboia, 139 páginas) vocaliza uma série de inquietações  colecionadas ao longo da vida das mulheres, em especial  nas relações conjugais. Para entender sentimentos de frustrações e pressões que permeiam a vivência feminina, a autora busca em filósofos, pesquisadores e  estudiosos  antigos e contemporâneos a gênese desse mal-estar e possíveis  caminhos para subvertê-lo.

 A obra virou curso, de nome “Por uma revolução  afetiva:   a crise do amor romântico e o poder da amizade feminina,”  promovido pela Casa do Saber. Com um total de seis aulas,  a proposta é explorar criticamente as construções sociais do amor romântico e  seu impacto nas subjetividades femininas,  propondo a  amizade entre mulheres como uma prática revolucionária de resistência e  transformação social. O curso combina perspectivas psicanalíticas, sociológicas e filosóficas para reimaginar as relações afetivas e pensar coletivamente maneiras de descolonizar o amor e o próprio   inconsciente  feminino.

O livro de Ingrid é dividido em três partes:  “Mas, afinal, o que é a mulher?,” “Eros em crise existencial”  e “A amizade feminina é a revolução.” Na publicação, Ingrid  argumenta como foi construída a  sujeição das mulheres ao longo da história por meio de uma narrativa  que rebaixa as capacidades intelectuais, sociais e  emocionais delas e  centraliza sua vivência nos deveres reprodutivo e familiar.

A escritora defende que sua cruzada não é contra o amor  ou  contra o romantismo e, sim,  contra aquilo que se estabeleceu socialmente  como normal e  asfixia  a pulsão vital do sexo feminino. Para amar, diz ela na obra, é necessário compromisso, envolvimento, cuidado e respeito. “O amor  não subjuga, ele liberta, mas para isso é  preciso ser exercido enquanto uma ética, solidária, democrática e coletiva, e não como instrumento discursivo para auxiliar na manutenção do poder patriarcal.

O livro sugere  que as amizades  sejam a força propulsora que desloque o amor romântico  do protagonismo que hoje ostenta, oferecendo uma reflexão ainda mais profunda sobre a questão.  Para a autora, a amizade entre as mulheres desafia as normas de gênero  estabelecidas,  que insistem em romantizar  a dependência emocional  e  a  submissão feminina. 

Ingrid Gerolimich nasceu e cresceu em Anchieta, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, capital fluminense. É graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e  também tem formação em Psicanálise pela Sociedade Psicanalítica  Iraci Doyle. 

É comentarista do canal da Carta Capital no YouTube e UOL. Realizou também os filmes “Revolução dos  Afetos”    e “Explante.”

Trecho:
“...o fato é que a  relação das mulheres com a natureza, a  fertilidade e o poder da criação,  despertavam o medo dos homens  diante de algo que lhes parecia fora do controle mundano, que era a maneira como elas se relacionavam com os mistérios da  mãe-terra. A “caça às bruxas” representava  então a  batalha entre o masculino,  que exerce o poder através da dominação,  e, o feminino, representando a força cósmica e misteriosa da fertilidade e da criação, mas não foi bem isso que ficou registrado nos anais da história. A demonização da mulher é um projeto  que nasce com o patriarcado e  segue acontecendo  de diferentes maneiras ao longo de todos os anos que se sucedem, gerando consequências   psíquicas  nas mais diferentes  gerações de mulheres que nascem a  partir daí.”
(página 37)

NOVO ACADÊMICO NA ABL
Edgar Telles Ribeiro é o mais novo integrante da Academia Brasileira de Letras, eleito com 28 votos em  39 possíveis,  devendo ocupar a  cadeira 27, declarada vaga com o falecimento de Antônio Cícero. Diplomata, professor e  escritor, Edgar Ribeiro é autor de 14 livros, entre romances e contos,  e pelo seu romance “Olho de rei” recebeu da ABL  o prêmio de melhor obra de ficção  em 2006.

NOVO ANO
Fechando 2024, completando 436 postagens ininterruptas desde agosto de 2016, o blog dos livros deseja a todos reencontros e  renovações no próximo ano,  com muita saúde, alegrias e paz. Tudo em meio a livros, literatura e  autores. 

Leituras:
“A aprendizagem não consiste apenas em saber o que devemos ou podemos fazer, mas também saber o que poderíamos fazer e, talvez, não deveríamos.”
(Umberto Eco, 5 de janeiro de 1932/19 de fevereiro de 2016, escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional, autor, entre outras obras, dos clássicos “O nome da rosa” e “O pêndulo de Foucault”).

Destaques:
PAPEL AMASSADO

Autora: Taís Fagundes

Aos 35 anos, nascida em Porto Alegre e morando atualmente em Canoas (RS),  este é o livro de  estreia da professora Taís Fagundes, voltado ao público infanto-juvenil. A autora coloca a cultura como protagonista, em um resgate de identidade e de autoconsciência, mostrando que o extraordinário  mora no comum dos dias. Enquanto este livro estava em processo de edição, a autora vivia um dos períodos mais desafiadores  de sua vida:  perdeu tudo com a enchente e sua casa ficou submersa por três semanas. Esta situação levou à escrita de “Bergamota,” que será publicado em abril de 2025.
Editora Labrador. 32 páginas.   

A CASA DA FLORESTA

Autora: Marion Zimmer Bradley

“As brumas de Avalon,” clássica releitura do mito arturiano sob a perspectiva feminina, é a obra-prima da autora Marion Zimmer Bradley. Ao longo dos anos após a escrita do primeiro volume,  Bradley se dedicou aos demais romances do chamado Ciclo de Avalon, do qual  “A casa da floresta” foi o segundo título a  ser publicado. Após a  destruição pelas legiões do Império Romano da Casa das Mulheres na sagrada ilha de Mona, nos territórios da Britânia,  as sacerdotisas,  que juraram proteger os ritos ancestrais, buscam refúgio em um novo santuário, a Casa da Floresta. Eis que surge um romance proibido entre a  futura grã-sacerdotisa e um oficial do exército romano, criando um choque  entre o dever e a paixão.
Editora Planeta. 414 páginas.  R$ 75,90.

(As obras apontadas  no Blog dos Livros podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul)