Blog dos Livros

O primeiro romance

16/08/2024 09:23 - por Mildo Fenner

Machado de Assis, então com  16 anos,  chamou o escritor, poeta e dramaturgo fluminense Antônio Gonçalves  Teixeira e Souza, ou simplesmente Teixeira e Souza (1812-1861), de “o gênio adormecido.” Foi assim que o futuro Bruxo  do Cosme Velho intitulou um poema, publicado  em 1855 no periódico “Marmota Fluminense,”  para reverenciar aquele que, apesar  de injustamente  esquecido após sua morte, em 1861, é reconhecido por especialistas como autor do primeiro romance brasileiro, “O Filho do Pescador” (180 páginas), obra resgatada pela Editora Sophia e  que ganha uma nova edição especial e comentada.

Antes de ser publicado como livro, “O Filho do Pescador” foi veiculado em rodapés do folhetim “O Brasil,” entre julho e  agosto de 1843. Logo depois, no mesmo ano, foi  impresso  pela tipografia  de Francisco de Paula Brito,  de quem Teixeira  de Souza veio a  se tornar amigo e sócio. A leitura  e análise da prosa  da obra possibilitam  compreender como o autor colaborou para definir  rumos e características do romance nacional.

Ao longo do século  20 até os dias atuais, raras foram as edições da obra. A Editora Sophia  faz o resgate do livro, abrançando a importância  de um novo olhar sobre o escritor fluminense que  caiu no gosto da época,  mas se perdeu na historiografia do país. O projeto da edição, segundo o editor e organizador, Rodrigo Cabral, visa não apenas encantar os já admiradores  de Teixeira e Souza, mas também despertar o interesse de novos leitores, ávidos por descobrir  os grandes prosadores e poetas  que formam a árvore  genealógica  da literatura brasileira até os tempos de hoje.

A obra destaca-se  não apenas por sua inovação narrativa, mas também por detalhar  com extrema beleza descritiva o litoral brasileiro, entrelaçando  a cultura local com a  trama de seus personagens  e  as relações sociais e humanas  de sua época.  O ponto de partida da história é a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde Augusto encontra a moça Laura, à deriva num naufrágio. Laura, de alma complexa e  beleza raríssima  descrita pelo autor,  que narra o livro em primeira pessoa, está no centro do acontecimentos. 

Além de Augusto, com quem se casa,  Laura acaba por se envolver com Florindo, Marcos e Emiliano entre percalços, incêndios e  assassinatos em um suspense que apronta reviravoltas  a  cada nova capítulo.

Para muitos estudiosos, a obra de Teixeira de Souza pavimentou o caminho para as futuras  gerações de  escritores brasileiros. De tal forma que  “O Filho do Pescador”  não é apenas o  primeiro romance brasileiro, mas um precedente   para a representação literária  das  paisagens, pessoas e dilemas sociais  do Brasil, uma vez que estabelece um  profundo diálogo  com a  identidade nacional.

Nascido em Cabo Frio (RJ), em 28  de março de  1812, Teixeira e Souza teve ao longo de sua vida a literatura  relegada a segundo plano, enquanto tentava de diferentes formas garantir a sua subsistência  e de sua família. Escreveu também, entre outros livros, “As Fatalidades de Dois Jovens,” “A Providência,” “Cânticos Líricos,” “Os Três Dias de um Noivado,” “A Independência do Brasil”  e “Cornélia.” Faleceu em primeiro de  dezembro de 1861.

Trecho:
“Entretanto, nas minhas reflexões escuto uma voz  que me diz: Consagra-lhe a  tua existência, porém ela nunca será tua; vive para ela, porém ela não viverá para ti! E todavia ela será tua, viverá por tua causa, e não te pertencerá.”
(página 110)

NOVO LIVRO DE CHICO
Conduzido por um fino equilíbrio entre lembranças e imaginação, “Bambino a Roma,” novo romance de Chico Buarque, conta o período entre 1953 e 1954 quando, ainda criança,  viveu cerca de dois anos na capital italiana com sua família. Seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, assumiu  a cátedra  de estudos brasileiros da Univeridade de Roma e a obra relata este tempo. A história da obra, lançada logo após o aniversário de oitenta anos do escritor e compositor, começa  com a partida do porto do Rio de Janeiro para Gênova e  a náusea  que marcou a  travessia a bordo do navio Giulio Cesare.

BIENAL EM SÃO PAULO 
Acontece entre os dias 06  e 15  de setembro, no Distrito Anhembi, em São Paulo, esperando receber mais de 600 mil visitantes, a 27ª. Bienal Internacional do Livro, realizada pela Câmara Brasileira do Livro. Com o tema “Quem lê faz grandes amigos,” a tradicional feira  terá mais de 2.000 horas de programação cultural e 13 espaços oficiais do evento com atividades relacionadas ao universo literário. 

Leituras:
“Os infelizes são ingratos; isso  faz parte da infelicidade deles.”
(Victor Hugo, 26 de fevereiro de 1802/22 de maio de 1885, romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, estadista e  ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país,  autor, entre outras obras clássicas, de “Os miseráveis” e “O corcunda de Notre-Dame de Paris”).

Destaques:
O IMPULSO


Autora:
Ashley Audrain

Blythe vem de uma família sem grandes modelos de mãe. E está determinada a mudar isso. Mas quando a experiência  com sua primeira filha, Violet, se mostra bem mais cansativa do que  poderia imaginar, ou mesmo suportar,  ela começa a pôr tudo isso em questão. Com o segundo filho, porém, as coisas são bem diferentes. Parece que finalmente viverá a maternidade dos sonhos. Até que um acidente  terrível  transforma essa jovem  família de uma maneira  perturbadora. Segundo o “New York Times,”  a obra “é uma leitura compulsiva  e um mergulho nos recantos mais obscuros da maternidade.”
Editora Paralela. 327  páginas. R$ 56,90. 

SE OS GATOS DESAPARECESSEM DO MUNDO 


Autor: Genki Kawamura

Romance sensível e fascinante que traz à tona a importância  da vida e do mundo que nos cerca. Segundo as palavras do “The Guardian,” é “um romance  que reflete sobre a vida, o amor, a separação familiar e o que resta quando partimos.” Para o “The Herald,” trata-se de “uma emocionante  história sobre como lidamos  com a morte e com nossos erros, que nos faz  repensar o que é realmente importante na vida.” Com os dias contados,  um carteiro jovem e solitário de repente se vê diante de um grande dilema existencial. Sem contato com a família, morando sozinho e tendo apenas o gato como companhia, ele não estava preparado  para receber o diagnóstico de uma doença em fase terminal e a notícia de que teria apenas alguns meses, talvez até semanas, de vida.
Editora Bertrand Brasil. 175 páginas. R$ 59,90.

(As obras apontadas  no Blog dos Livros podem ser encontradas   junto à Revistaria e Livraria Nascente, na Rua Saldanha Marinho,   1423, Cachoeira   do Sul) 

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