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O tempo, de Mario Quintana
Mario Quintana está entre os poetas mais populares da literatura brasileira. Talvez seu sucesso se deva à simplicidade dos seus versos e capacidade de identificação com o público leitor.
Um de seus poemas mais representativos, O tempo tinha como título original Seiscentos e Sessenta e Seis, uma referência aos números contidos dentro dos versos que ilustram a passagem implacável do tempo e também uma alusão bíblica ao número do mal.
Foi publicado pela primeira vez na obra Esconderijos do Tempo, em 1980. O livro, escrito quando o autor estava com setenta e quatro anos, exprimindo a sua visão madura e sábia sobre a vida.
No poema, composto por 12 linhas poéticas, encontramos um sujeito que, já ao final da vida, olha para trás e procura extrair sabedoria de suas vivências. Como não pode voltar no tempo e refazer a sua história, tenta transmitir através dos versos a necessidade de se aproveitar a vida sem se preocupar com o que é desnecessário.
Em resumo, com estes versos, Quintana nos transmite a urgência de viver, a necessidade de pararmos de adiar a própria vida, de fazermos logo aquilo que queremos ou desejamos com ardor.
Em cada verso, em cada palavra, essa ideia ganha cada vez mais força, até o final da composição.
O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
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