Blog da Poesia

Ondjaki

27/11/2024 09:14 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Ndalu de Almeida, mais conhecido como Ondjaki, nasceu em Luanda, Angola, no dia 5 de julho de 1977. Artista multifacetado. É escritor, contista, poeta, dramaturgo e pintor. Sua produção escrita sofreu grandes influencias de autores brasileiros, entre os quais, Guimarães Rosa e poetas como Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado e principalmente Manoel de Barros. 

Trata-se de um dos autores angolanos mais inventivos e originais. suas obras já foram traduzidas para diversos idiomas. 

Poesia visceral. De linguagem rápida. Inteligente.

É autor de obras super importantes como “Os transparentes”, “Bom dia, camaradas”, “Os da minha rua” e ‘O livro do deslembramento”.

CORPO
em cima do que foi olhado
pela poesia
estendo o meu luando
empresto o meu corpo ao chão
e adormeço.

ADEUS
no jardim da minha casa encruzilhei-me com uma lesma.
ela ofereceu um olhar. vi o mundo pela sedução da lesma:
tudo ardilhado de simplicidade.
ofereci uma tristeza: ela quase cedeu a transparências.
aprendi com a lesma: uma tristeza não deve ser
emprestada.
o mundo, mesmo partilhado,
é muito a pele de cada qual.
na falta de dedos
a lesma fez adeus com o corpo.
e veio a chuva.
reaprendemos assim o lugar das nossas almas.

ESTES DIAS
queimam-me
os dias
dos outros.
rego-me, reinvento o
mundo.
falho.
na minha janela
de ferrugem tórrida
os passarinhos
ainda
fazem amor.

AMARELAS SÃO AS TARDES
são amarelas as tardes quentes de ti
teu corpo em espera ligeira nem pluma nem ave cântico de adormecimento oblíqua nuvem num céu de breve quentura e o sal também vem até onde a lava te celebrar e o amarelo da tarde restar tom de manteiga com açúcar derretido na pele no chão da minha boca espasmo delicioso amor intranquilo beijo sem lábios na ternura de palavras faladas amarelas são as tardes em que o meu corpo maduro te descobre transparente maracujá quente
quente de mim

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