Dizem que aconteceu em Urubici, Santa Catarina. Naquele inverno rigoroso de 1962, a neve caiu por mais tempo do que a região estava acostumada, transformando a paisagem da comunidade de Vacas Gordas em um vasto manto branco. Leopoldo, um menino de apenas 8 anos, estava entusiasmado por acompanhar seu pai na compra de suprimentos.

Juntos, enfrentaram o frio cortante e os ventos gelados, viajando os 15 km que separavam a comunidade do centro de Urubici. No retorno, seu pai, um homem robusto e acostumado às intempéries, decidiu convidar seu sobrinho Ildo, de 9 anos, para acompanhá-los até sua casa nos Campos de Santa Bárbara, outros 15 km de caminhada através da neve implacável.

A jornada de volta deveria ser tranquila, mas a natureza tinha outros planos. No meio do caminho, uma tragédia inesperada se abateu sobre eles. O pai de Leopoldo, sem aviso, sucumbiu ao frio e à exaustão, deixando os dois meninos sozinhos e perdidos na vastidão gelada. A tempestade de neve, implacável, os cercava, apagando qualquer traço do caminho de volta e transformando a paisagem em um labirinto branco e traiçoeiro.

Quando a notícia do desaparecimento chegou à comunidade, um sentimento de urgência e desespero tomou conta de todos. Homens e mulheres se uniram em uma busca frenética, desafiando o frio e a neve. As horas transformaram-se em dias, e a esperança oscilava como uma chama frágil no meio da tempestade. Os campos de Santa Bárbara, habitualmente pacíficos, tornaram-se um cenário de angústia, com a comunidade vasculhando cada canto na esperança de encontrar os meninos com vida.

Foram quatro dias de busca intensa até que, finalmente, uma descoberta devastadora foi feita. Debaixo de uma árvore, os corpos congelados de Leopoldo e Ildo foram encontrados, abraçados como se buscassem conforto e calor um no outro em seus últimos momentos. A tragédia marcou profundamente a comunidade, mas, com o passar do tempo, algo inexplicável começou a acontecer. Histórias de milagres começaram a surgir, associadas aos túmulos dos meninos, e logo se espalharam pelos arredores.

Os túmulos de Leopoldo e Ildo tornaram-se locais de peregrinação. Pessoas de diversas regiões vinham até ali, movidas pela fé e pela esperança de que os meninos milagreiros atendessem seus pedidos. Diziam que, especialmente no inverno, as preces eram ouvidas com mais frequência. Promessas e oferendas eram deixadas aos pés das lápides, e as histórias de milagres realizados multiplicavam-se, reforçando a aura de mistério que envolvia aqueles dois jovens mártires da neve. Os meninos da neve viraram santos populares.

E você, leitor, o que você pediria aos meninos da neve? Em meio ao silêncio gelado dos campos de Santa Bárbara, suas vozes parecem sussurrar através do tempo, oferecendo conforto e esperança àqueles que, como eles, buscavam um milagre nas profundezas do inverno.