Blog da Poesia
Poesia visual
A poesia visual consiste numa junção entre a literatura (o texto do poema) com as artes visuais (a imagem criada através das palavras).
De modo simplificado podemos dizer que o poema visual é uma poesia que está amparada na imagem.
Apesar de estar associada muitas vezes a um movimento mais recente (a poesia concreta), a verdade é que a poesia visual, que usa tanto as palavras quanto à disposição gráfica para comunicar, existe há muito mais tempo.
Há registros de poemas visuais presentes desde a Antiguidade.
Aproximadamente em 325 a.C. foi produzido, por exemplo, o poema O Ovo, de autoria de Símias de Rodes, que é o mais antigo poema visual que se tem notícia.
Através da tradução acima, feita por José Paulo Paes, observamos como a criação se trata de um poema que fala do nascimento do próprio cantar. Os versos imitam o formato de um ovo, fazendo com que forma e conteúdo dialoguem abordando o tema da origem.
Apesar do conceito de poesia visual parecer uma inovação, vale lembrar que toda a escrita teve origem num desenho (a palavra originalmente era manuscrita, desenhada). Isto é, a palavra escrita nasceu de uma imagem, que socialmente se convencionou por um código comum. Apesar de ter origem numa imagem, a escrita foi se descolando da sua componente gráfica, visual.
O poeta francês Apollinaire (1880-1918) criou em 1914 o celebrado chove (no original Il pleut), uma poesia visual que remete para o movimento das gotas de água em direção ao chão.
Os versos, que imitam a chuva caindo, não são escritos como é habitual, na horizontal, e sim no formato vertical, oblíquo, rumo ao solo.
O texto em si também fala da chuva, transmitindo a mesma mensagem tanto através da forma quanto do conteúdo:
Chovem vozes de mulheres como se estivessem mortas mesmo na recordação
Chovem também encontros maravilhosos da minha vida ó gotículas
E estas nuvens empinadas começam a relinchar um universo de cidades mínimas
Escuta se chove enquanto a mágoa e o desdém choram uma música antiga
Escuta caírem os elos que te retém em cima e embaixo.
(tradução de Sérgio Caparelli)
Rio: o ir, de Arnaldo Antunes
Um dos grandes nomes da poesia visual contemporânea é o poeta e músico Arnaldo Antunes. O seu poema Rio: o ir é construído todo com um formato circular, um octógono, dando uma ideia de movimento constante, que seria uma metáfora da própria vida. A vogal o, posicionada bem no meio do poema, é também uma circunferência. O i, por sua vez, em maiúscula, pode também ser lido como uma barra. O jogo com as palavras pode resultar em outras leituras como "oir" (que em espanhol quer dizer ouvir) ou mesmo "rir".
A palavra também se presta a uma outra leitura: disposta na página de forma diferente o leitor pode experimentar lê-la ao contrário: o ir.
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Plano piloto para poesia concreta [1958]
Por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos