Blog dos Espíritos

Provas e expiações

17/06/2024 09:07 - por Rosane Sacilotto

As dores da humanidade
A Doutrina Espírita nos ensina que o Planeta Terra é ainda um mundo de provas e expiações, onde a humanidade experimenta seus sofrimentos cotidianos, suas dores e lutas, alternando com momentos de relativa felicidade e conquistas. Ao longo das sucessivas reencarnações vamos nos deparando com esses necessários enfretamentos como meios de repararmos falhas do passado, nos permitindo, quando superados, rumar ao progresso moral, atingindo melhores e meritórias condições pessoais.

Na questão 931 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec pergunta ao Espírito de Verdade: “Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?”. E recebe a seguinte resposta: “Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre”.

Ao longo do processo de evolução, o espírito encarnado é, muitas vezes, submetido a exames pela vida, criando-se situações que o envolvem e o colocam em contato com suas fraquezas, com o objetivo de despertá-lo. São as tentações, que revelam o que somos e a posição em que estamos, as nossas más tendência e inclinações. A prova é um exame que consiste em ser submetido a uma tentação para avaliar o progresso realizado e sua firmeza, a capacidade de enfrentar essas tentações e não se deixar guiar por elas.

De acordo com Emmanuel, na obra “O Consolador”, assim é a diferença entre provação e expiação: “A provação é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e da edificação espiritual. A expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime”.

Expiações referem-se ao processo de uma culpa, em que o espírito é apresentado a um contexto em que possa avançar moralmente por meio uma experiência equivalente a que infligiu a outrem no passado. Então, a diferença entre provas e expiações é que provas são como obstáculos, testes, que nos impulsionam para outros estágios de evolução. Elas existem inclusive nos mundos superiores, já que são desafios para a progressão dos espíritos. Já expiações são os resultados de faltas que foram cometidas pelo Espírito em vidas anteriores.

Gênero das provas e progresso moral
“O Livro dos Espíritos” nos diz, em sua questão número 258, que, no intervalo entre uma e outra encarnação, o espírito escolhe o gênero de provas por que há de passar na vida terrena. Temos assim liberdade de escolha, em que as provações da vida nascem de nossas opções, dentro das necessidades evolutivas de cada um, e claro, também de acordo com o merecimento e com a utilidade e capacidade que já tenhamos adquirido para o enfrentamento. Porém, nossas escolhas não são um roteiro de filme, em que cada minuto é minuciosamente planejado, mas sim as principais, aquelas que nortearão  a nossa existência, nunca nos esquecendo do livre-arbítrio, que muitas vezes nos faz desviar do que foi planejado, já que não nos recordamos destes planos quando reencarnamos.

Na “Revista Espírita” de janeiro de 1861, Allan Kardec publicou uma carta escrita pelo Sr. Canu, explicando aos seus pares o que seriam estas experiências em outras existências: “É uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse de progredir o mais rapidamente possível, a fim de sofrer menor número de provas, pois o Espírito não retrograda. Para ele, cada progresso realizado é uma conquista assegurada, que não lhe poderá ser retirada. De acordo com esse princípio, hoje demonstrado, torna-se evidente que ele alcançará mais cedo o objetivo, quanto mais depressa caminhar”.

Tanto as provas quanto as expiações não são castigos nem punições, são apenas a aplicação das Leis Divinas, a Lei de Causa e Efeito, vinculadas a nossa liberdade de escolha e da nossa consciência. O enfrentamento das provas e das expiações é mais meritório para o espírito conforme sua resignação, de maneira a torná-las mais proveitosas a sua evolução. Retirando dessas situações o aprendizado necessário para o aprimoramento moral. Para sermos resignados, precisamos aprender a não lamentar a nossa sorte e a aceitar com submissão paciente os sofrimentos da vida, demonstrando assim o nosso amor e confiança em Deus.

Segundo Joanna de Ângelis: “Provas e expiações de qualquer monta são necessidades elaboradas por nós próprios, a fim de repararmos as faltas cometidas, encontrando na dor que se deve superar os recursos valiosos para a libertação dos gravames inditosos e a paz da consciência. Não são, portanto, desgraças reais os chamados infortúnios, conforme conceituam as convenções do utilitarismo e do imediatismo. O verdadeiro infortúnio pode ser encontrado na ausência da fé em Deus com o impositivo de prosseguir-se caminhando entre dores e desesperações sem os arrimos abençoados da crença e da esperança. Infortunados estão aqueles que traíram a consciência e se enganaram, a si mesmos, não se dando conta do delito apesar do apelo da razão que desperta e deseja fixar-se vitoriosa sobre o instinto”. 

Os maiores recursos de que dispomos para enfrentamento das provas e das expiações são a resignação, a reforma íntima e a fé na justiça divina, na certeza de que nada ocorre por acaso. Assim, precisamos refletir sobre os processos dolorosos que nos surgem ao longo da vida, confrontando nossas fraquezas morais, sempre conscientes de que o enfrentamento se afina com as nossas necessidades evolutivas e às nossas possibilidades de crescimento para merecermos acesso a mundos mais felizes.

KARDEC, Allan. “O Livros dos Espíritos”; “Revista Espírita”.
XAVIER, Francisco C. – Emmanuel. “O Consolador”.
FRANCO, Divaldo P. – Joanna de Ângelis. “Após a tempestade”.

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