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Psicologia de um Vencido e a poesia incomum de Augusto dos Anjos

11/09/2024 09:41 - por Tiago Vargas tiagovargas.uab@gmail.com

Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigénesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia,
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário de ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida, em geral, declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

Psicologia de um vencido é um dos poemas mais conhecidos de Augusto dos Anjos, um dos poetas mais importantes da nossa história literária.

O poema em questão trata-se de uma obra que combina linguagem erudita com coloquial.

Um poema renovador, tanto na temática quanto nos modos operandi e que reflete numa miscelânia de referências nas características literárias.

O poema faz analogia ao naturalismo ao retomar referências científicas, impulsionado pelo uso de termos que pertencem a Química e a Medicina, como epigénesis, por exemplo. Trata também do retorno a matéria, o ser humano como uma entidade orgânica, sem espiritualidade, sem subjetividade. A razão sobrepondo a fé.  

Filho do carbono e do amoníaco confirma esse pensando denotando a ideia de não qualquer resquício de alma ou espirito depois do fim. 

Psicologia de um vencido é escrita em versos decassílabos, formato de soneto, com presença de rimas em esquemas alternados. Modelo estrutural típico e comum do parnasianismo. 

A presença de elementos místicos como os signos do zodíaco, a musicalidade a partir do uso das rimas, a presença de figuras de linguagens como sinestesia que exalta a percepção de sentidos representa a ideia simbolista.

E a temática, sim, a temática típico e inconfundível de Augusto dos Anjos. 

A morte, a morbidez e a decadência...

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