Blog do Mistério

Quando a ciência se torna macabra

10/04/2025 09:26 - por Gisele Wommer giwommer@gmail.com

Nos bastidores das grandes descobertas científicas, onde nomes como Einstein e Babbage são referência, há histórias que raramente são contadas — não por falta de curiosidade, mas por puro desconforto. Quando a ciência ultrapassa os limites da ética em nome do saber, o que resta pode ser tão fascinante quanto perturbador. O cérebro, esse símbolo máximo da inteligência humana, tornou-se, em certos casos, relíquia de museu — um troféu para a curiosidade médica.

Albert Einstein, por exemplo, teve seu cérebro removido apenas algumas horas após a morte, em 1955, pelo patologista Thomas Harvey. Sem o consentimento formal da família, Harvey dividiu o órgão em mais de 200 partes, algumas delas distribuídas por décadas a colegas e pesquisadores do mundo todo. Por trás da busca por respostas — o que fazia Einstein tão genial? —, havia também algo quase ritualístico: a tentativa de reter, fisicamente, a essência de um gênio. Hoje, pedaços desse cérebro ainda circulam em coleções privadas, ocultos em gavetas de metal ou expostos em vitrines de instituições.

Mas Einstein não foi o único. Charles Babbage, o pai do computador, falecido em 1871, também teve seu cérebro dividido em duas metades. Uma repousa no Museu Hunteriano; a outra, no Museu da Ciência, ambas em Londres. Seu crânio vazio repousa no cemitério Kensal Green, como se o corpo soubesse que sua mente ainda não tinha terminado de trabalhar. Um relatório da dissecação revela que o cérebro, após 36 anos em álcool, havia encolhido, um detalhe que, longe de ser apenas técnico, carrega algo de sombrio. Uma mente brilhante, reduzida a uma peça de vidro.

Em todos esses casos, uma pergunta se impõe: por que não deixá-los em paz? Talvez porque, no fundo, a humanidade tenha medo de que o conhecimento morra com seus portadores. E assim, como antigos alquimistas que buscavam a imortalidade em frascos de vidro, a ciência moderna transformou cérebros em relíquias. Meio sagradas, meio profanas. O que começou como pesquisa tornou-se quase culto. Museus viraram santuários de mentes que não descansam.

Há quem jure sentir algo ao se aproximar dessas peças. Um formigamento na nuca, uma sensação de estar sendo observado. Superstição, talvez. Mas também pode ser que fragmentos de consciência resistam, que a memória não seja só elétrica, mas enraizada de forma mais profunda — e mais duradoura — do que imaginamos. Afinal, se o corpo se vai e a mente permanece, então essas metades de cérebro seriam o quê? Restos mortais? Ou antenas para algo que ainda vibra, mesmo na morte?

O fascínio persiste. E enquanto cérebros brilhantes forem divididos como mapas do tesouro, talvez a ciência nunca deixe de ser, ao menos um pouco, macabra.

 

Encontrou algum erro? Informe aqui

Faça seu login para comentar!
17/04/2025 09:49

Um acervo amaldiçoado

03/04/2025 09:31

A freira da torre do sino

06/03/2025 08:28

Morte no cemitério

O título deste post vai remeter a um romance de Agatha Christie, mas infelizmente é pura realidade.

20/02/2025 09:43

A caverna dos condenados