Naquele ano de 1722, sob os céus opacos da Baía de Guanabara, um navio de nome altivo, Rainha dos Anjos, encontrava-se em seus últimos momentos sobre as águas. A bordo, não havia apenas os colonos e tripulantes, mas uma carga mística e valiosa – baús recheados de ouro, porcelana chinesa, artefatos religiosos e itens que, segundo relatos históricos oficiais, eram destinados ao então nascente império português na América. A tripulação falava baixinho sobre a carga preciosa, temendo que a cobiça ou alguma maldição lhes roubasse a sorte em alto-mar.

Contudo, a viagem tornou-se um jogo de azar. As noites eram inquietas, tempestades dificultaram a jornada e o silêncio parecia anunciar algo mais profundo do que a simples chegada à costa. Alguns marujos juravam ter visto uma figura fantasmagórica espreitando no convés, um presságio de que a aventura terminaria antes do esperado. Apesar dos sustos e medos, o Rainha dos Anjos até chegou bem à terra prometida, mas o que veio na nau, nunca saiu de lá (teoricamente). 

Relatos indicam que o capitão se preparava para jantar em terra firme, quando um estrondo mais alto que um estouro de trovão rugiu pelos ares. Era a pólvora contida no navio, que ao entrar em contato com uma vela esquecida por um marinheiro causou danos irreparáveis. O Rainha dos Anjos partiu ao meio e afundou, levando consigo um tesouro estimado em cerca de um bilhão de reais.

Épocas se passaram, e o nome do Rainha dos Anjos virou uma lenda temida e adorada. Correm rumores de que aqueles que tentaram explorar os escombros foram amaldiçoados com infortúnios sem fim, como se o próprio mar, ciumento, guardasse seus tesouros e suas almas. Homens curiosos desapareceram, e naufrágios inexplicáveis continuaram a ocorrer naquela região. Algumas peças, que as correntes jogaram para longe, teriam sido removidas e comercializadas, mas não passa de especulação.

Hoje, arqueólogos ainda buscam resgatar fragmentos dessa história, intrigados pelos mistérios e pelo peso dos séculos. Supostamente o navio teria sido localizado na Guanabara, mas o investimento para chegar até ele e trazê-lo à tona seria totalmente absurdo.

São toneladas de lixo e de lama por cima do local onde a nau estaria, e não há certeza de que ela resistiria a uma tentativa de remoção. Tantas dúvidas fazem com que os estudiosos cheguem ao acordo de que o navio deve permanecer onde está, juntamente ao seu conteúdo. 

Enquanto isso, a lenda do Rainha dos Anjos continua a ser narrada entre curiosos e caçadores de tesouros. Esta é somente a história real de uma nau naufragada na costa brasileira, sem possibilidade de acesso, mas existem muitas outras. O fundo do mar, com suas águas turvas, guarda seus mistérios.