Blog do Mistério

Sedna: a Deusa das águas gélidas do Ártico

18/07/2024 09:47 - por Gisele Wommer giwommer@gmail.com

Os inuits são membros da nação indígena que habita as regiões árticas do Canadá, Alasca e Groenlândia. Nós costumávamos a conhecê-los como esquimós, mas pesquisas recentes relatam que este termo é pejorativo e foi criado por exploradores franceses, significando "comedores de carne crua", obviamente, eles não gostam de ser chamados assim. É muito difícil fazer o censo na região ártica, e os inuits não se consideram uma unidade, mas estima-se que atualmente existam entre 80 mil e 150 mil nativos nas terras gélidas do extremo norte do planeta.

Eles têm uma mitologia riquíssima. Um de seus personagens veio a ganhar fama, após ser descrito por um autor de terror, cuja obra virou série de televisão. Ele é o grande urso branco: o espírito da vingança. Segundo a mitologia inuit, este ser, que para os nativos é o próprio terror, foi criado por Sedna, a deusa dos mares. Ela tem sua própria história triste para ser contada, vamos conhecê-la e, na próxima semana, falaremos sobre o urso, ou melhor, sobre Tuunbaq.

O Círculo Polar Ártico é uma terra extremamente inóspita, o clima hostil torna árdua a existência daqueles que vivem por lá. Sedna era uma garota belíssima que morava distante das aldeias com seu pai, um ancião. Quase ninguém chegava até o local onde os dois viviam e Sedna já estava em idade de casar-se. Foi quando um misterioso homem apareceu pela região, do nada. O pai, desesperado pela falta de comida naquele inverno ainda mais rigoroso, concedeu Sedna em casamento sem saber a quem, pois o homem usava uma túnica com capuz e nunca mostrou seu rosto.

O misterioso noivo levou a garota embora, eles navegaram por dias no mar quase congelado e, quando chegaram à sua moradia não havia nada lá, apenas restos de animais mortos e um cenário terrível. Sedna logo percebeu que seu noivo era um bruxo, conhecido entre os xamãs por suas práticas malignas. O sujeito não tinha rosto e todas as manhãs se transformava em um corvo. A moça acabou ainda mais sozinha e isolada, e tinha que se alimentar apenas dos peixes crus que ele lhe concedia. O desespero a fez gritar e chorar por dias, até que seu pai a localizou.

O ancião resgatou Sedna, colocou-a em seu barco e iniciou a viagem de volta para casa, mas o bruxo não deixaria que ela partisse facilmente. Logo, um corvo enorme abriu suas asas sobre o barco, agitando os ventos e provocando uma tempestade no mar. Desesperado, o pai de Sedna a jogou nas águas congeladas, querendo se livrar da filha e do corvo. Ela nadou e se agarrou ao barco, mas o pai cortou seus dedos utilizando um machado. Sedna retornou ao barco e ainda conseguiu se agarrar nele com o que restava das mãos, mas foi a vez de o pai cortar suas mãos. Assim, ela submergiu nas águas e o ancião escapou do corvo.

Para os inuits, os dedos de Sedna caídos na água se transformaram em focas e peixes. Suas mãos viraram baleias e, apesar de muito ferida, ela não morreu. Eles acreditam que, após tanto sofrimento, Sedna virou uma deusa que habita as profundezas do oceano. Ela é agraciada nos tempos de pesca farta e invocada em épocas de carestia. Ela é a responsável pelas águas calmas, mas também pelas ondas agitadas e tempestades. Sedna era uma moça que sofreu muito; agora é uma entidade, é boa e é ruim. Os inuits a respeitam, veneram e associam a ela o maior de todos os seus medos: o Tuunbaq.

Este povo conhece o equilíbrio delicado entre a benevolência e o terror no coração das terras árticas.

 

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