Blog do Mistério

Tuumbaq: o espírito da vingança no Ártico

25/07/2024 08:30 - por Gisele Wommer

Na quinta-feira passada falamos sobre Sedna e sua triste história. Para os inuits (membros da nação indígena que habita as regiões árticas do Canadá, Alasca e Groenlândia), os deuses também têm seus dias bons e ruins. Sedna, a deusa do mar, entrou em conflito com o deus do sol e a deusa da lua, em um desses episódios em que a natureza decide não convergir. A mitologia inuit afirma que a guerra durou 10 mil anos e não teve vencedor.

Aborrecida e com sede de vingança, Sedna teria criado um espírito maligno para destruir seus inimigos, da mesma forma que os xamãs das aldeias costumavam a fazer. Mas mexer com o oculto nunca acaba bem nas narrativas inuit, seja entre homens ou deuses. Quando um xamã resolvia desrespeitar o equilíbrio da natureza para fazer o mal, todo o ambiente ao redor era afetado. Mulheres grávidas sofriam abortos sem explicação, homens morriam em acidentes bizarros, as noites se tornavam mais longas, os dias ainda mais frios e a comida, perigosamente, escassa. E se por acaso a criatura invocada pelo xamã não atingisse seu objetivo maligno, se voltaria contra o próprio criador.

O mesmo aconteceu com Sedna. O espírito vingativo que ela criou, conhecido como Tuumbaq, ao falhar na tentativa de matar seus inimigos, voltou-se contra sua criadora. Mas Sedna já esperava por isso, de forma que enfeitiçou as águas, proibindo o Tuumbaq de encontrá-la no fundo do mar. Assim, a criatura acabou ficando na terra, tomou a forma de um grande urso branco, mas que colocava medo em qualquer outro da espécie.

A criatura criada por Sedna teria sido a responsável por nenhum inuit viver nas terras no extremo norte. Por gerações o Tuumbaq devorou almas de homens e mulheres e consumiu com aldeias inteiras. Todos os nativos enviados para matá-lo jamais retornaram, até que os inuit decidiram que deveriam aprender a conviver com a criação de Sedna.

Um trato foi feito entre a criatura e os indígenas. As terras do extremo norte seriam exclusividade da besta, nenhum habitante iria até lá. Os xamãs mais poderosos espiritualmente seriam treinados para se comunicar com o Tuumbaq, muitos jovens arrancam a própria língua em sinal de que não falarão com mais ninguém. Os inuits reverenciariam o Tuumbaq e o respeitariam como a um deus e este se comprometeria em enviar-lhes alimento em tempos difíceis. 

E assim o trato foi feito, Tuumbaq gostou de ser mimado e reverenciado. Não há nada no mundo que os indígenas temam mais do que a sua fera do gelo, mas o respeito mútuo entre criatura e homens assegurou uma trégua de gerações. A presença de homens brancos em terras árticas é vista como perigosa pelos indígenas, eles acreditam que o Tunnbaq acabará se contaminando, caso se alimente de suas almas impuras e este seria o fim do trato e de todo o equilíbrio natural que impera na região.

NA HISTÓRIA: Os inuit acreditam que a malfadada expedição Franklin acabou com todos os marinheiros mortos porque ignoraram o aviso de que aquelas terras pertenciam à entidade maligna.

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