Blog da Poesia
Valter Hugo Mãe
Valter Hugo Mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos, nascido em 25 de setembro de 1971. Autor de múltiplas vocações e atividades; além de romancista de grande sucesso (agraciado com os Prêmios Portugal Telecom de Melhor Livro do ano, Portugal Telecom de Melhor Romance com as publicações O fiho de mil homens e A desumanização, além do Prêmio Literário José Saramago com o remorso de baltazar serapião) é poeta, artista plástico, músico, apresentador de tv, entre outras atribuições. Sua poesia está reunida na volume Contabilidade. Seus escritos dotados de poderosas imagens poéticas trazem luz e uma beleza singular a nosso idioma. Seus quatro primeiros romances são conhecidos como a tetralagia das minúsculas, ou seja, escritos integralmente sem letras capitais, incluindo o nome do autor. Esse conceito ou ideia alude a uma certa utopia de igualdade, equiparando as palavras na sua grafia, deixando que o leitor seja ativo na leitura, definindo o que deve ou não ser acentuado. Seu texto é caracterizado essencialmente por frases curtas, de significado extremamente estudado e preciso, porém de ritmo estranho a quem estiver habituado a narrativas convencionais. Trata-se de um autor que se reiventa a cada linha, numa linguagem de peculiar plasticidade e ousadia com olhar microscópico e conteúdo profundamente humano. Cada parágrafo ou página é uma aula de psicoanálise ( Hugo Mãe explora com genialidade as sombras e os fantasmas que residem no intrínseco de cada pessoa). Sua obra como um todo é para ser lida devagar, sem pressa. E, para reler, muitas vezes.
a capitalização do amor
não escondemos que aprendemos a
capitalizar o amor, entregando
amplamente os nossos melhores
momentos às raparigas mais carentes.
o amor, sabemos bem, é o caminho directo
para a inutilidade, e nós procuramos as
raparigas que mais rapidamente se
inutilizem perante as coisas clássicas
da vida. não nos queremos atarefar com
a vulgaridade, e gostaríamos até de
impregnar cada gesto com características
alienígenas, mas o tempo escapa-se e o
dinheiro também e, se só pensamos no amor,
não temos como fazer de outro modo
senão vendê-lo entusiasticamente, como
fontes de trovões bonitos jorrando nas
praças mais movimentadas das cidades. e
as raparigas correm para nós urgentes
e cheias de vida, férteis de tudo quanto o
amor se abate sobre elas, uma alegria rica
de se ver, e nós a balançar os braços para
chamar a atenção de mais e mais e
já nem sabemos como parar, como forças
incontroladas, à semelhança de mecanismos
ferozes da natureza, e só sairemos daqui
quando desfalecermos de amor até
pelas raparigas mais feias.
valter hugo mãe
valter hugo mãe
se o vento é a ignição
das árvores venha o
temporal, elas ateadas sobre
as nossas cabeças, desmembradas
da terra como voadores desajeitados, meu pai
já conheço o vão da tua fome, peço-te,
faz de mim uma colher
divina
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