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Wicked: musical pop inspirado em clássico
A aposta em grandes produções no modelo tradicional do cinema narrativo é um dos grandes dilemas da Hollywood atual. Após a pandemia e a crescente expansão das plataformas de streaming, que oferecem amplo catálogo de filmes que podem ser apreciados na tranquilidade do sofá de casa, novos hábitos alteraram o potencial das bilheterias nas salas de exibição. Os filmes de super-heróis, que reinaram soberanos por duas décadas lotando cinemas, já indicam claros sinais de esgotamento.
Neste cenário não deixa de ser ousada e arriscada a proposta de adaptar para o cinema um grande sucesso musical da Broadway. Além de ser baseado na produção teatral estreada em 2003, “WICKED” ainda possui um parentesco mais distante com o filme clássico “O Mágico de Oz” de 1939, estrelado por uma jovem Judy Garland. A aposta fica ainda mais arriscada, em termos de investimento e retorno, quando se sabe que esta é apenas a primeira parte do projeto. A parte 2 de “Wicked” já está agendada para lançamento em novembro de 2025.
Quase 90 anos separam “O Mágico de Oz” de “Wicked”. Neste tempo decorrido a percepção do público para questões sociais e políticas alterou drasticamente. Temas como diversidade, aceitação e representatividade não existiam sequer em sonhos naqueles tempos românticos da década de 30 do século passado. Impensável seria desconsiderar esta realidade nos tempos que correm. Então, para as plateias contemporâneas estes temas foram inseridos no contexto.
O “Wicked” de 2024 é uma espécie de visão revisionista da história original do romance infantil de L. Frank Baum de 1900, fonte que inspirou a célebre adaptação cinematográfica “O Mágico de Oz”, bem como o musical da Broadway de vinte anos atrás.
A história gira em torno de duas meninas da Terra de Oz: Elphaba e Glinda. A primeira uma menina de pele cor verde-esmeralda, incompreendida, inteligente e de personalidade forte, que cresceria e se tornaria a famosa Bruxa Malvada do Oeste. A segunda uma bela menina loira e popular que cresceria para se tornar a Bruxa Boa do Norte.
Mesmo com personalidades opostas e distintas, nasce entre as duas uma improvável amizade. Após um encontro com o Mágico de Oz o relacionamento delas chega a uma encruzilhada. A trama acontece em um período anterior à chegada de Dorothy à Terra de Oz (como vimos no filme de 1939). “Wicked” seria então uma espécie de prólogo ao longa clássico.
No elenco está a cantora pop Ariana Grande, interpretando a bruxa boa Glinda, e Cynthia Erivo fazendo o papel da bruxa má Elphaba. Ambas garantem a qualidade do espetáculo artístico que em última análise é do que se trata o musical pop “Wicked”, que presta tributo à Era de Ouro dos musicais technicolor da MGM.
Como todo filme musical que se preza, “Wicked” exige dos adultos uma suspensão da descrença difícil de ser alcançada em musicais contemporâneos. Ainda assim, Grande e Erivo entregam uma performance pulsante e vigorosa. O resultado de suas presenças na tela garante a atenção e o interesse na jornada cheia de nuances emocionais de suas respectivas personagens, a ponto de nos permitir esquecer a artificialidade inerente ao gênero. Nos referimos aos adultos, mas não esqueçamos das crianças e jovens, público prioritário desta versão. Para eles o espetáculo de música, fantasia, imaginação e cores tem grande apelo, apesar de ser um filme longo para segurar a atenção dos pequenos.
Um aspecto que pode comprometer o desempenho de “Wicked” nas bilheterias é sua longa duração, nada menos de 2h40. Excessivo para uma produção que tem o compromisso de entreter plateias infantis. Há subtramas que não acrescentam nada à narrativa, além de mais minutos desnecessários de exibição. O que poderia ser um musical enxuto, rápido e satisfatório se apresenta como uma produção inflada que perde a mão em seu desejo de deslumbrar a plateia a qualquer custo. Talvez a melhor solução fosse condensar as partes 1 e 2 em um filme só. Mas, só teremos certeza disso quando a segunda parte estrear no ano que vem.
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