Em novembro de 2020 a Netflix lançou em seu catálogo o seu filme exclusivo, A Fera (La Belva, 2020), produção italiana de ação e suspense. No dia do lançamento a produção ocupou imediatamente o 1º lugar no TOP 10 da plataforma, e durante a semana seguinte, sempre esteve presente na lista. Não é pra menos, o filme é muito bem feito, com ótimas tomadas e trilha sonora maravilhosa. O roteiro não traz nada de novo, é como se estivéssemos assistindo a um filme do Liam Neeson, onde bandidos mexem com a família dele e ele sai em busca de justiça (ou vingança?), deixando um rastro de corpos pelo caminho.

Mas convenhamos: em dezembro de 2020 foi comemorado 125 anos de cinema (ou da primeira exibição, se preferir). Nesses anos todos, ao redor do mundo, aproximadamente 3.000 filmes registrados são lançados todos os anos pelos principais produtores de cinema: Hollywood (700 filmes por ano aproximadamente), Bollywood (a Hollywood indiana lança cerca de 1.200 filmes anuais) e Chinawood (a China restringe filmes estrangeiros, apenas 30 filmes não-chineses são apresentados nos cinemas por lá, por isso, a produção nacional deles é de cerca de 400 filmes anuais).

Só por curiosidade, o Brasil atualmente chega próximo dos 100 filmes produzidos anualmente. E a Itália, país de A Fera, em torno de 250 produções/ano. Tudo isso para dizer que é impossível lançar hoje em dia um produto que seja 100% original! Sempre vai ter uma certa semelhança com algo que já foi mostrado antes. O lema “Nada se cria, tudo se copia!”, vale para o cinema também!

O Filme
Na trama, Leonida é um ex capitão do exército que lutou em algumas guerras, trazendo para casa traumas que o deixam afastado da família e dopado de psicotrópicos. Seu pior trauma é ter sido torturado e resgatado pelo seu pelotão, que foi inteiramente executado, e só ele sobreviveu. O filho rebelde adolescente e a esposa desistiram há tempos de tentar se reaproximar de Leonida, também conhecido como “A fera”.

Sua filha mais nova é a única que consegue ter um laço com o pai, e por quem Leonida tem um carinho maior. Em uma noite comum, o filho leva a irmã para comer um lanche, e enquanto ela está na mesa, ele sai para fumar um cigarro com os amigos. Quando volta, Teresa, sua irmã, não está mais ali. Testemunha contam que ouviram ela ser levada aos gritos para um Jeep. O rapaz chama a polícia e os pais. Leonida é o primeiro a chegar e com a descrição do carro, parte em busca dos sequestradores. A polícia chega e começa a suspeitar de Leonida por ele ter abandonado o local antes da chegada deles. Vendo o histórico da Fera, os policiais contatam que provavelmente Teresa foi levada por algum antigo desafeto de Leonida.

Sem notícias e pedido de resgate, a mãe fica em choque, o filho se culpa, e Leonida usa métodos pouco tradicionais para seguir o rastro dos sequestradores, pedindo inclusive ajuda para um ex colega do exército. Seguindo o rastro de sangue deixado por Leonida, a polícia tem cada vez mais suspeitas dele, por ele chegar sempre antes deles nos locais. Leonida encontra a filha e descobre que a verdade é pior do que ele pensa, mas antes de poder salvá-la, ele acorda em um hospital, algemado e incapaz de fazer qualquer coisa para impedir o triste destino da filha. Será “A Fera” imobilizada ou ele vai usar tudo o que sabe do exército para tentar resgatar a filha?

Traumas e Emoções
A pior guerra de um homem é travada dentro de sua cabeça! É isso que vemos quando termina A Fera. Leonida precisou ter sua filha sequestrada para voltar a viver, sair do seu estado de hibernação a base de remédios. O apelido A Fera combina perfeitamente com ele, uma vez que um animal, depois que prova o gosto do sangue, vai querer mais, Leonida, depois de ter enfrentado uma guerra, precisa de outra. É exatamente o que acontece: ele traz a guerra até ele, e essa pode ser a chance dele se curar e recuperar os laços familiares ou terminar de vez com eles.

O filme se preocupa em passar essas emoções conflitantes dos personagens, como o filho que não gosta do pai descobrindo coisas terríveis que ele passou, a esposa que foi abandonada ainda amando o marido, porque ele perdeu a capacidade de amar, e do próprio Leonida, que começou a se enxergar como homem novamente, e não uma fera descontrolada. Nessa busca pela filha, ele se reencontra lentamente com o que foi antes da guerra arrasar com o seu psicológico.

O Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) afeta 5% da população, mas em militares, esse número sobe para aproximadamente 12%, e inclui flashbacks das zonas de combate, tornando quase impossível uma interação familiar normal sem tratamento médico. Na guerra no Iraque, que durou 4 anos a mais que a 2ª Guerra Mundial, cerca de 30% dos sobreviventes tiveram ou tem algum tipo de TEPT até hoje. Sobreviventes de desastres naturais, acidentes e ataques violentos também apresentam certo grau de TEPT, embora em escala bem menor do que aqueles que estiveram em uma guerra, 24 horas por dia sob constante terror, tensão e medo.

Finalizando
Enquanto o mundo continua em guerra, seja ela territorial, religiosa, civil, qualquer um está suscetível a traumas em zonas de conflitos. Devemos agradecer por nosso país ser abençoado por não ter conflitos pesados, apenas a guerra ao tráfico, que apesar de violenta, não chega nem perto do que vivem outros países de Terceiro Mundo. Nós temos a tranquilidade de sentar em nossas casa com o mínimo de tranquilidade e assistir a um bom filme por exemplo. Que você aproveite esse momento e passe a ver cada novo dia como um presente, e que guerra nenhuma nos impeça de sermos humanos e nos relacionar bem com o próximo.

A Fera nos mostra o grande valor da família na vida das pessoas, e na importância de demostrar afetos. Família, que no filme é representada por mãe, pai, filho e filha, mas que no caso de muitos, podem ser amigos, colegas ou um animal de estimação. Família não precisa ter o mesmo sangue. Uma família é um núcleo formado pelo amor. Muito amor para vocês nesse 2021 e até semana que vem!

Trailer legendado: https://youtu.be/ZPvxDVUQrDE
Trailer dublado: https://youtu.be/LW3sM9Y0UIY