Blog da Poesia

Celso Gutfreind

24/03/2021 08:57

Celso Gutfreind nasceu em Porto Alegre, em 1963. Escritor e psiquiatra. Tem 35 livros publicados entre contos infanto-juvenis, ensaios e volumes de poesia. Participou de antologias no Brasil e no exterior.  

Seus livros já foram traduzidos para o francês, inglês e espanhol. Tem diversas premiações literárias com destaque para o Prêmio Açorianos em 1993 com o livro de poemas “Arte de Rua’’. “Fera Domada’’, ‘’A almofada que não dava tchau’’, ‘O terapeuta e o lobo’’ e o recente “A arte não basta’’, são suas publicações mais relevantes.  

A lírica sutil de Gutfreind disfarça uma semântica intrínseca e vigorosa. Instiga. Provoca. Faz eco no silencio. Respira. Inspira. Seus escritos visitam com desenvoltura os lugares preferidos da infância, desnudam situações em temas como amor, viagens, paternidade, filosofia e arte. O cotidiano como um lugar de ser. Da poesia o que é poesia. 

Conversa de menino
O silêncio era infinito
Mas acabou
Perguntado ao menino:
O que fazes nesta manhã?
Ele agarrou no que não tinha:
-Reinvento a minha mãe.
Celso Gutfreind

PRESCRIÇÃO DE ANDARILHO
Dar a volta ao mundo
para tocar flauta
Tocar cada volta
apesar do áspero
Parar num lugar
apesar do tempo
Dizer desdizer
até o som, a dança
Ver cor sentir cor
olhar um segundo
Esquecer a hora
sonhar muitos anos
Viver e viver
antes que seja arte
Celso Gutfreind

OS INOCENTES
Nós íamos ao parque na inocência
para muito prazer, divertimentos
e um pouco de sorte nas argolas.
Jamais nós retivemos uma imagem
de forma superior à sua essência
a fim de que depois fosse expressada.
Jamais observamos qualquer ritmo
de carrossel, de roda ou trem-fantasma
exatos e velozes como o medo.
Jamais nos dirigimos ao porteiro
a fim de questionar o que não fosse
um preço de bilhetes ou a hora.
Jamais pensamos que essa arte toda
seria assim um dia necessária.
Celso Gutfreind

Mãos
O destino foi cinzelado
nas palmas das mãos
açoitadas pelas emoções
e cobertas de aflições

nossas mãos calejadas
vão alterando o destino

e de noite, os violinos
musicam nossos naufrágios
Isabel Furini

Museu de paixões
Sentimentos presos em apenas um local, onde todas as antigas paixões são como uma obra a ser mostrada, você é a escultura mais linda no meu Museu de paixões. Te mostrarei como meu, mesmo que não pertença à mim.Para cada paixão uma ferida a ser curada por você meu bem, te espero nos meus sonhos onde escalamos montanhas e atravessamos caminhos ainda nunca descobertos.
Amanda da Silva Pereira

O galo sabe cantar
Para fazer o dia raiar
Levantar o sol devagar
Conversando com a vizinhança
Eu, aqui, só admiro
Esse cantar tão bonito
Com um só estribilho
Parecendo inventar a esperança
Edison Botelho

Eu sou
Não sou destino.
Sou a beleza da trajetória da viagem.
Não sou a impetuosidade da ondas do mar.
Sou o curso livre e espontâneo
de um rio calmo.
Não sou um dia especial.
Sou a página do diário
que foi esquecida em branco.
Não faço parte desse teatro efêmero.
Sou o cenário que se perpetua
em todas as cenas.
Não sou rima estática e rígida.
Sou versos brancos de emoção pura.
Não sou clara nem límpida.
Sou as entrelinhas,
o conteúdo latente do sonho.
Não sou uma canção.
Eu sou o silêncio na partitura
entre as notas musicais.
Gabriela Vidal Domingues

Um dia desses
Sai de madrugada atrás da poesia
A rua toda vazia, escura e fria
Não havia uma alma sequer
Apenas vampiros desalmados
‘’Poesia requer alma!’’
Dizia meu professor de literatura
Devo ter vendido minha alma
Por que a poesia não me visita mais
Sumiu à la Belchior
Ó deuses - ou demônios - do capitalismo: Devolvam minha alma
Pippo Pezzini

Ser/árvore
Não posso ser árvore
Realçar insetos
Salivar a chuva
O quente dos dias secos

Posso ser homem
Celebrar epifanias
Disparar olhares
Que me despem o centro

No oco das árvores
Cabe um ninho
No das placentas
Um a/feto

Nas extremidades
Longos cabelos
Diluem as pontas
De galhos abertos

Não posso ser árvore
Torno-me pedra
Calcifico perdas
No duro caminho

Entre árvores e seres
Vivo o primitivo
O verde broto
Das manhãs que canto

O proibido fruto
Dentre todas sementes
Ser mente e sentido
Carne e fóssil ungidos.
Gerson Nagel

Encontrou algum erro? Informe aqui

Faça seu login para comentar!
12/05/2021 09:01

Dia das mães

05/05/2021 08:49

Viviane Mosé

28/04/2021 08:44

Charles Baudelaire

21/04/2021 08:38

Machado Bantu

14/04/2021 08:23

Eugénio de Andrade

07/04/2021 08:20

Diego Grando

31/03/2021 08:19

DIEGO PETRARCA

10/03/2021 08:44

Todo dia é dia da mulher

03/03/2021 09:56

Armindo Trevisan

24/02/2021 08:14

Wilson Alves-Bezerra