Blog da Poesia

Eugénio de Andrade

14/04/2021 08:23

Eugénio de Andrade foi o pseudônimo de José Frontinhas Neto, nascido em janeiro de 1923 foi considerado por muitos como um dos maiores poetas portugueses contemporâneos. Foi um escritor prolífico e tradutor. Verteu para língua de Camões obras dos cânones José Luís Borges, Federico García Lorca e Rene Char.

Publicou mais de 20 livros de poesias, além de textos em prosa, ensaios, antologias e livros infantis. A escrita de Castro se caracterizou por uma lírica peculiar que residia no limiar dos sentidos retratando a intensidade da vida como modo de ser e estar. Um versejar elegante e confessional. Límpido. Carregada por uma fluidez ritmada plena de metáforas. Poesia concisa, precisa. Do encaixe sonoro e semântico. Literatura intensa, absoluta e luminosa.

Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si.
E o nevoeiro nunca deixa ver claro.
Se regressar
outra vez e outra vez
e outra vez
a essas sílabas acesas
ficará cego de tanta claridade.
Abençoado seja se lá chegar.
Eugénio de Andrade

A Arte dos Versos
Toda a ciência está aqui,
na maneira como esta mulher
dos arredores de Cantão,
ou dos campos de Alpedrinha,
rega quatro ou cinco leiras
de couves: mão certeira
com a água,
intimidade com a terra,
empenho do coração.
Assim se fez o poema.
Eugénio de Andrade

As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade

Menos armas, mais Mia Couto
Menos violência, mais Valter Hugo Mãe
Menos racismo, mais Carolina Maria de Jesus
Menos indiferença, mais Conceição Evaristo
Menos ódio, mais Paulo Freire
Menos machismo, mais Simone de Beauvoir
Menos tristeza, mais Manoel de Barros
Menos certezas, mais Fernando Pessoa
Menos preconceito linguístico, mais Guimarães Rosa
Menos analfabetismo político,mais Darcy Ribeiro
Ad infinitum.
DILSO J. DOS SANTOS

Nossa palavra
Que ganhe alma o papel,
quando escorrer por suas linhas,
a voz festiva
do homem que ainda semeia.
Da letra, faça-se garganta.
Do ponto, que nasça o depois,
nunca o fim.
Que da janela,
uma frase chame a outra,
até que dum abraço rico,
brote a corrente
das bocas que criam.
Seja a consciência, uma fome
e cada idéia, uma angústia.
Que a lei da criação
agite quem sentou
e faça vibrar, lá fora, o ouvido
do povo que recém acorda.
Finalmente,
diante do altar da verdade
esteja ajoelhada a nossa palavra.
Magali Vidal Domingues

• z •
vou enterrar minhas criancas
junto com teus sonhos de esperanca
nessa cova rasa e funesta
codinome brazil
Paulo Jorge

Bodas de Hematita
Com os olhos vendados e vendado pelo amor
Ele se sente como um inseto voando ao redor da luz
E se deixa levar pelo que a imaginação permite.
A cada rua em que anda, em cada esquina em que vira
Ela vai flertando com a fantasia
Enquanto admira a Lua no seu zênite.

O jantar à luz de velas
O mistério na taça de Anima Vitis
Traço avermelhado igual hematita.
Djavan tocando na vitrola:
“Vem me fazer feliz porque eu te amo
Você deságua em mim e eu oceano...”.
E sua alma levita.
Sérgio da Silva Almeida

Um século de ironia
Entre telas e caixinhas
Ser de verdade em um mundo de mentiras
Propagandas a todo vapor
Zumbis em um estado de estupor
O universo a volta é ignorado
Prefere-se viver em um quadrado
Uma mini máquina que visa apenas a monetização
Você acha que é o comprador, mas na verdade
É um objeto colecionado
O qual a inteligência artificial usa para sustentar um mercado
Ora ora, seja bem vindo a tecnologia sendo capitalizada!
Clara Gabriela

Poesia, dizem, é feita para os amores
Acrescentaria que poesia é feita para quem grita
Para quem tinge uma camiseta
Ou um panfleto
Um soneto, um hai-kai
Amassada, jogada no lixo
Se transforma em semente
E dela árvore
E de árvore vira fruto
É para deixar você puto.
Poesia é grito, é luxo
Como um cartucho
Que não mata, mas fere
E se fere,
Precisa cuidados, curativos,
Efetivos desastres.
A poesia é lápide
E não é túmulo
É um tumulto
É transformação
De massa e alma.
A poesia é poesia
Um escrito
Finito
Enfim
Há fim
Um não
Um sim
Max Montiel Severo

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