Blog da Poesia

Mário Quintana / O anjo poeta

30/11/2016 11:29

Incansável e talentoso cultor da palavra certa no lugar exato, com seu modo peculiar e aparentemente simples de tratar os vocábulos e discutir em seus versos temas específicos como a infância, a morte, a velhice, a solidão, a felicidade, entre tantos outros... Mário Quintana conquistou e influenciou um sem fim de leitores/escritores eimportantes do nosso tempo.

Escrevendo com uma dose sutil de ironia e utilizando uma linguagem coloquial, simples e cotidiana, o autor de ''A rua dos cata ventos'', ''Canções'', ''Baú de Espantos''... marcou uma trajetória singular na literatura brasileira.
Quintana pertenceu à segunda geração do Modernismo, ao lado de nomes como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes... A termos de esclarecimento, por modernismo entende-se, resumidamente como o movimento nas artes e nas letras que tratou de romper com as tradições acadêmicas clássicas da época, cujo marco inicial foi à famosa Semana da Arte Moderna de 1922. Em síntese, a mobilização se caracterizou basicamente por exigir um novo posicionamento literário que abordasse,, entre outra questões, temas contemporâneos e dinâmicos, tal qual a poesia de Quintana.

Seu labor poético era algo intrínseco, genuíno; tendo na despretensão e na liberdade criativa (não que o buscasse facilidades na composição literária) sua principal virtude.

Quintana era rigorosamente contra escritores que abusavam do vernáculo utilizando palavras difíceis em seus textos para demonstrar somente erudição; Na verdade, não concordava com o uso de termos que desestimulasse a interpretação (era contra a ostentação vazia da sapiência). O poema "o trágico acidente da leitura'' evidência essa questão; nele o eu-lírico fala de sua experiência como leitor e o tormento de ter a sua frente uma palavra desconhecida. "Tão comodamente que eu estava lendo, como quem viaja num raio de lua, num tapete mágico, num trenó, num sonho. Nem lia: deslizava. Quando de súbito a terrível palavra apareceu, apareceu e ficou plantada ali diante de mim, focando-me: ABSCÔNDITO. Que momento passei!...''
Para o poeta nascido no Alegrete, ''O mais difícil era o ato de desler'', ou seja, a poesia como premissa de interação social, emocional e afetiva; a poesia para perceber seu entorno e os anseios de seu tempo. Para respirar e interagir. Para Quintana, numa espécie de ciclo, o leitor de poesia também se configurava como um poeta.

A ambigüidade na apreciação de poemas, o uso de proposições usuais e rotineiras, o emprego indiscriminado de metáforas, o coloquialismo nas palavras utilizadas nos textos literários, a leveza nas imagens, a melancolia exposta nos fragmentos, a liberdade na escrita são alguns ecos da poesia de Quintana que reflete em nossos versos, na nossa poesia contemporânea.

Inclusive na composição literária de nossos poetas. (Na estética e na temática)

O blog da poesia traz uma homenagem/reverência/tributo da Liane Korberg ao anjo poeta e textos de Marion Cruz, Julia Effel, Marcelo Batista, Jaqueline Machado, Suzara Prade, Jorge Ritter e Féliz Korberg.

Nosso poetinha já dizia que um poema é uma interjeição ampliada, uma parábola trancada pelo impulso; Então que a poesia seja isto, hoje e sempre.
Inspiração, instinto e impulso.

Por Tiago Vargas

 

Quintanares

Mário Quintana

 


CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
Nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

Mario Quintana

 


Poesias poemas versos

Espantalho

Tomar um gole de coragem
Todas as manhãs
Entorpecer o corpo
Para esquecer as feridas
Tomar um gole de coragem
E, não um galão
Pouco basta
Uma quantidade razoável
Para não perder a razão
Homem ou lata
Não seria leão?
Que bom seria se todas as verdades morassem na cabeça
E não no coração!
Mas ninguém quer ser espantalho…

Julia Effel


 

Amor em português

Assim como uma vírgula
Muda muita coisa quando se escreve
Queria três vírgulas
Em cada linha da minha vida ...
Principalmente onde esta escrito
A melhor parte de nossa história ...
Que tem como ''sujeito oculto''
Dois lindos frutos
Do nosso amor ...
Que vieram
Entre nossas ''interrogações'' ...
E que não devem sofrer
Por nossas ''exclamações'' ...
E que nossas frases
Jamais tenham um ''ponto final'' ...

Marcelo Batista



Sem protocolos

Não sinto vergonha de cumprimentar
Um mendigo,
De brincar com uma criança,
De pedir desculpas quando piso na bola,
Nem de correr atrás de alguém quando
É preciso.
“Curvar-se de vez em quando’’.

Jaqueline Machado


 

Criador e criatura

Sou poeta e sou poesia.
Que tristeza! Que alegria!
Reescrevo-me todo dia.

Marion Cruz


 

Outonal

As folhas vermelhas que caem
Ante a tépida aragem
São lágrimas que escorrem
Pela face do outono
E refletem toda a pureza da alma
Dos que cantam em versos uma saudade sutil.

Félix Korberg


 

Carente
Hoje sinto-me assim...
Meio carente
Como pão sem margarina,
Café sem açúcar,
Boca sem dente,
Amor sem gente
Filho carente
Mãe sem filho
Filho sem pai
Me sinto assim...

Suzara Prade




Amiga

Se te fizesse
Um poema
Chamá-lo-ia
Felina...

Se te definisse
Em palavras
Carisma seria...

Se te mandasse
Uma flor
Miosótis queria...

Mas como
Poema já é
E de carisma
És feita
Mando-te
Um grande
Abraço
Nestes simples
Versos que
Ora traço.

Liane Korberg


 

UMA PRAÇA PARA MÁRIO QUINTANA

Um grande monumento sentado no banco da praça vigia o tempo que passa...
... Ele é um poeta, um guerreiro, um solitário.
Com seus livros abertos sempre a nos contar histórias.
- E a praça se move...
E o guerreiro luta...
... Em sua volta um homem faminto pede
Um cachorro brinca
Uma criança corre
O desesperado chora
- E o engraxate segue lustrando os sapatos dos afortunados
Um bancário descansa fumando um baseado
O banqueiro chega com seu automóvel blindado
O artesão trabalha na sombra da figueira
Uma velhinha caminha
- Um policial corre...
- É o assalto do dia...
- Um grito
- Um tiro
Alguém morreu...
Amanhã a praça volta ao normal...
E o monumento segue nos vigiando.
- Ele é um Quintana.

Jorge Ritter

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Gracias Suzara!!

Tiago Vargas em 01/12/2016 às 13h46

Obrigado pela leitura qualificada!!!

MARIO QUINTANA/ ANJO POETA

Suzara Prade em 01/12/2016 às 08h38

Parabéns Tiago muito sucesso o blog e show!

Amei

Suzara Prade em 01/12/2016 às 08h37

Todo o sucesso para o blog tudo muito lindo!

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