Blog da Poesia

Novos poetas

16/11/2016 14:53

Cachoeira do Sul é uma cidade com tradição na escrita, terra de Fontoura Xavier, nosso maior expoente, poeta parnasiano, influenciado pela obra do francês Baudelaire e tradutor dos gigantes William Shakespeare e Edgard Allan Poe; Opalas é sua obra mais significativa, considerada um clássico na literatura rio-grandense. 

O fato é que somos abençoados por Apolo, o Deus grego das artes e dos versos, uma vez que, grandes escritores e poetas nasceram à margem do Jacuí;

João Neves Da Fontoura, Liberato Vieira da Cunha, Alarico Ribeiro, Célia Maria Maciel, Marcelo Gama são apenas alguns deles...

Metaforicamente diria que somos essencialmente inventores, pensadores, obreiros, artesões, engenheiros... Articuladores da palavra.

Faz parte da premissa do JP Literário e do blog (que é essencialmente uma versão estendida da coluna) oportunizar novos talentos, agregar, abrigar e acolher nossos valores; neste espaço plural e pretensiosamente democrático desfilam poemas nos mais variados estilos e filiações poéticas. E é justamente essa diversidade, essa multiplicidade estética nos gênero que nos enriquece culturalmente, seja como leitores ou autores.

Enquanto o profeta antigamente em seu discurso sentenciava ‘’eu vos trago a verdade’’; o poeta mais humilde dizia, ‘’eu vos trago a minha verdade.

Trazem sua verdade neste post os talentosos e revigorantes poetas Iuri Vico, Dilso j. Dos Santos, Cris Martim Branco, Cristina Macedo, Estevão Folleto e Jorge Rosa, acompanhados pelo vistoso poema da prestigiada e preeminente poetisa (espécie de madrinha dos novos poetas) Neícla Bernardes.

O blog também apresenta dois nomes substanciais na nova poesia local; Marielsa Klatter Braga, autora dos romances Violinos Vermelhos e Empório de Doces e Rafael Tatsch Jacóbsen.

Cada qual com seu estilo próprio, particular, com sua ótica intrínseca e subjetiva.

A vida em nuances distinto. A poesia como fato consumado.

Boa leitura meus amigos...

Por Tiago Vargas

 

Fontoura Xavier

Flor da Decadência

Sou como o guardião dos tempos de mosteiro!
Na tumular mudez dum povo que descansa,
As criações do sonho, os fetos da esperança
Repousam no meu seio o sono derradeiro.

De quando em vez eu ouço os dobres do sineiro:
É mais uma ilusão, um féretro que avança...
Dizem-me Deus... Jesus... Outra palavra mansa
Depois um som cavado – a enxada do coveiro!

Minh’alma, como o monge à sombra das clausuras,
Passa na solidão do pó das sepulturas
A desfiar a dor no pranto da demência.

-É de cogitar insano nessas cousas,
É da supuração medonha dessas lousas
Que medra em nós o tédio – a flor em decadência.

Fontoura Xavier

 

Poesia poemas versos

Amor e amizade
Ela te faz mais bela
Seu lábio carmezim
brilha num sorriso
que sequer aconteceu
Todavia em outras bocas
o rubro se torna trivial
Mas te acho única
e o coração "dizpara"
ah essa boca
ah esse baton
ele é vermelho
porém "dizpare"
Num termo terno
de amigo eterno
de sim à vida

Jorge Rosa


De tanto me sujar
De tanto me limpar
Sujei mais
Limpei mais
E acabei sendo isso tudo:
Parte limpo, parte sujo.

Dilso J. dos Santos

 

Fora a aurora mais triste e funesta que tive
Era o começo de um novo dia e de outra vida
Que aurora pesada, com ar de pesadelo

As lágrimas caíam como nunca caíram
Eu queria acordar daquele horrível sonho
Belisquei-me, mas acordado já estava
Queria gritar, sumir, mas não podia

Era meu último momento, eu precisava estar ali
Que desespero, que dor, que tristeza
Eu realmente precisava enfrentar aquela aurora

O dia amanheceu e tudo estava acabado
Nada mais eu poderia então fazer
Eu nunca esquecerei a aurora daquele dia.

Rafael Tatsch Jacóbsen

 

Coração mentiroso

O coração me disse, um dia
Que era livre como o ar que respiro
Livre como um pássaro
Levando seu canto para qualquer lugar
Livre como a brisa que me beija suave
Na noite quente de verao
Livre como as nuvens no céu
Como os peixes no mar,
Como estrelas no firmamento
Disse que era livre como o dia que foge sempre da noite
E vai dormir bem longe, lá no horizonte
Eu acreditei! Agora é tarde!
Explode o amor
Este coração mentiroso.

Neícla Bernardes

 

Cris Martim Branco


A Cor Cinza – Prelúdio de Morte

1. Com as mãos trêmulas costuro palavras tortas e como um Bardo sem inspiração, na escassez de minhas horas, sonolenta e silenciosa registro a solidão, desta prisão desnuda de compaixão. Onde só escapam de meu abraço frio, os que antecipadamente são abraçados pela Morte... Sem Norte repouso meu corpo prostrado, com meu coração despedaçado nesse lugar ausente e abandonado. Eu sou a Velhice!

2. Cinza é a minha cor favorita. A cor dos meus cabelos, de meus olhos opacos, dessas paredes... De meu retrato. É a cor de meu pensamento, do tédio e do sofrimento. É cinza minha impotência, mas também é cinza a intolerância!

3. Mas nem sempre minha cor fora essa. Fui flor e fruto de cerejeira. Vivi todas as cores. Tive amores, amigos e família... Fartos sorrisos! Hoje, nem amores, nem cores, nem família, nem sorrisos... Nada. Todo amor que outrora transbordei e dediquei aos que tanto amei, não tive sequer uma fração de retribuição. Rasgaram-me dolorosamente o coração!

4. Calaram-se as fartas vozes, os risos e os sorrisos que outrora me encheram de vida, minha Vida. E agora diante desse espelho manchado e acinzentado observo meu corpo duplicado, o qual, finjo não ser eu, a pessoa do outro lado.

5. A primavera curvou-se ao cinza do inverno, purgatório de loucuras... Inferno de lamúrias e sussurros de variadas preces. Sou apenas sombra com pequenas porções de vida. A sabedoria adquirida fora por mim esquecida e pelos outros, desumanamente, ignorada. Restam-me flashes de minha introspecção sobre a experiência... A existência enquanto carne que lateja.

6. Que penosa espera diante dessa luz alaranjada, que projeta triplicada, minha sombra desbotada. Na vidraça suja da janela, a luz maquia a pele debilitada e as pálpebras caídas. No chão gasto, deita gentilmente, minha sombra benévola, no entanto, na parede acinzentada, me agiganta malévola, monstruosa, maquiavélica trazendo-me a lembrança meu livre-arbítrio.

7. O espelho quebrado, do estreito corredor, evidencia meu rosto humilhado que pelo tempo foi craquelado. Denuncia meu niilismo, mas oculta minhas improbidades... Paixões torpes, prováveis loucuras de primavera. Contudo, a loucura fora reservada aos homens, diz Jeremias.

8. Que lugar dantesco é esse donde a vida brevemente perde a cor? Onde soam dentre as frestas silenciosas, Trítonos Diabólicos, prelúdios de dor e de morte?!

9. Que angústia é essa e de onde vem essa ausência de sentido na vida? Surge dessa busca ilógica por minha existência... Pela abstinência e pela “Náusea” de constatar o Nada.

10. O livro da minha vida se intitula 'No Limite', por significar fronteira real e/ou imaginária, em matemática, valor determinado a partir do qual uma grandeza variável consegue se aproximar, mas nunca poderá atingir.

11. Sinto cansaço e uma agonizante falta de ar! Estou no limítrofe entre o dia e a noite, privada de minha razão, de meu direito de ir e vir. Resta-me observar dessa pequena janela a árvore de Zeus, o mágico Carvalho de inverno, que espera por minha alma imortal.

12. Sem calendário não percebo a fome do tempo e como Goethe, delirante, escrevo signos no ar. Meu relógio cessou. Quebrou se dissipando ao vento norte. É a Morte que espreita e que me rouba a vida.

13. Agora minha alma tediosa aguarda silenciosa pela cerimônia mentirosa, de falsas lágrimas a banharem-me a carne fria. E depois de portas fechadas... Porão de terra batida!

14. Não fosse Bach despertar-me com suite N.1 e as infiltrações de sol a banhar-me o rosto de luz, não teria acordado de meu infortúnio a tempo de abraçar meus pais, de sorrir para meus filhos... Foi só um sonho ruim – pensei diante do espelho que ainda não havia sido Quebrado.

Marielsa K. Braga (Geras Chronos)

Livros Publicados por Marielsa Klatter

Violinos Vermelhos

Empório de doces


Emaranhado
Corpo
Porto
Interdito
Táteis
Os dedos
Desencontram
Teias
Intrincam
Urdem
Pensamentos
Ocos
Poucos
No absinto
Labirinto.

Cristina Macedo

 

D’eus

Quem tem preguiça de procurar deus vai à igreja...
Cada um tem a sua própria aproximação de natureza divina
É um sentimento e não um ser, e nunca uma conduta linear
Deus é o impulso da natureza
A árvore que se ramifica muito acima da terra à procura do sol
Sofre do mesmo pulsar que o ser humano com a sua ambição insaciável
Ambição deturpada muitas vezes, mas ainda assim dádiva
É a sede de aprender, de observar, é a capacidade de criar
Nós somos a mão ativa desse impulso criador
Observando com a alma nua, somos capazes de conectarmos com o todo e desfrutar de nós mesmos e de tudo que vive e que inspira
Nós somos moldadores da argila do mundo, somos o resultado final de um instinto inquieto,manifestado em todas as formas de vida
Basta silenciar as ilusões
Conhecer a si mesmo é conhecer Deus

Iuri V.F. Lima

 

Página do passado

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Nota de errata:

Tiago Vargas em 18/11/2016 às 08h44

Retificando; gostaria de acrescentar aqui no comentário o nome do poema enviado pelo Rafael Tatsch Jacóbsen, A AURORA DAQUELE DIA é o título da obra, Tiago Vargas

Cumprimentos

Mônica Gomes Vico em 16/11/2016 às 21h13

Parabéns pelas seleções de poemas e pelas oportunidades ao surgimento de novos talentos. Muito sucesso e q essas páginas sejam sempre férteis das ideias mais variadas e inusitadas! Abraço!

12/05/2021 09:01

Dia das mães

05/05/2021 08:49

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DIEGO PETRARCA

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