O cinema praticamente ganhou um subgênero nos últimos anos: filmes de roubo. Assaltos a bancos, roubo de joias e vários outros tipos de golpes ganharam uma nova releitura após o remake bem feito de Onze Homens e Um Segredo, que virou trilogia e rendeu muitos filmes similares.

Claro que já existiam filmes do tipo antes, mas Onze Homens trouxe uma nova característica: o planejamento bem elaborado e uma equipe grande e profissional. Atualmente a série La Casa De Papel, fenômeno da Netflix que ganhou o mundo, explorou bem o tema, e agora foi a vez da Argentina contar sua versão de uma história real ocorrida no ano de 2006.

O resultado é um filme divertido e com boas atuações. O Roubo do Século está em cartaz nos cinemas e tem ainda o atrativo de ser um dos raros filmes argentinos a entrar no circuito comercial.

O Roubo
Antes de falar do filme, vamos a um breve resumo do roubo ocorrido numa sexta-feira, 13 de janeiro de 2006. Na operação real, a polícia acredita que mais de 10 pessoas participaram do roubo, alguns estavam dentro do banco, outros estavam no lado de fora esperando. Seis homens fizeram 23 pessoas de reféns por horas no Banco Rio, em Acassuso, liberando apenas três deles em troca de comida.

Enquanto alguns ficavam de olho nos reféns, outro negociava com a polícia para ganhar tempo, enquanto dois integrantes esvaziavam os cofres. O mais absurdo de tudo isso é que eles usavam réplicas de armas, isso mesmo, nenhuma arma era de verdade. Depois de horas de negociações, a polícia resolveu invadir o prédio, encontrando os reféns deitados, os cofres vazios e nenhum sinal dos ladrões.

A fuga foi espetacular, bem coisa de cinema mesmo, e não vou entregar aqui o segredo. No filme a fuga é mostrada em detalhes, além de fotos e entrevistas da época e um resumo sobre o que aconteceu com cada um dos integrantes do grupo depois que finalmente foi descoberto a mente por trás do que os argentinos chamam de o Roubo do Século, que inclusive inspirou a série La Casa De Papel.

Agora vamos falar do filme em si e de como ele aborda o roubo de quase 300 quilos de materiais, incluindo joias, barras de ouro e dinheiro, num valor que até hoje ninguém sabe ao certo, mas que, estima-se, seja algo em torno de 30 milhões de pesos, retirados de 145 cofres particulares do banco! Originalmente, quando a polícia invadiu o banco, o bando de ladrões assistia à operação pela televisão, em casa, enquanto contavam e dividiam o dinheiro.

O Filme
Na produção argentina, a história foi retratada com um tom mais leve e com alguns momentos de humor, como piadas entre os integrantes e diferenças de opiniões em diálogos meio longos, mas tudo funciona muito bem e o filme vem agradando o público e a crítica.

Eu particularmente não gosto quando misturam humor numa história verídica, pois tira todo a atenção para o fato em si. Talvez sem esses momentos de comédia, o filme funcionasse perfeitamente como um suspense bem elaborado, no melhor estilo da trilogia dos Onze Homens, mas isso não vem ao caso, pois é um gosto particular.

Não há muito o que dizer sobre a trama, pois ela é baseada no roubo citado no parágrafo anterior. Na primeira parte do longa, é apresentado os personagens, alguns amigos, outros estranhos com alguma utilidade para o plano inicial: cavar um túnel nos esgotos em direção ao cofre central do banco.

Entre brigas e discussões o grupo improvável começa o plano, mas ás vésperas de agirem, eles decidem mudar a tática: entrar no banco e fazer todo mundo refém, um assalto de verdade com armas de brinquedos, e usar o túnel para sair e tirar o dinheiro, escapando depois com dois botes esgoto acima onde passariam o dinheiro para um veículo e então cada um voltaria para a sua vida normal.

Mas o alto valor roubado e a ousadia do truque de “desaparecer” do banco, desafia a polícia que não descansa até encontrar os culpados. Na história verídica, todos os clientes do banco foram reembolsados pelo Banco do Rio e estima-se que somente 30% do valor roubado foi recuperado.

Dinheiro e mais dinheiro
O grande trunfo de O Roubo do Século é a química entre o elenco, muito conhecido na Argentina, e também o fato do filme dar um final para história, diferente do que vem ocorrendo com filmes atualmente, que deixam o final em aberto ou terminam sem nenhuma lógica.

Todos os personagens têm sua história pós golpe contada, acabando com a curiosidade do público e dando ainda mais veracidade para a história que parece ser ficção. Outro fato que chama a atenção é que a maioria dos integrantes do bando não necessariamente precisavam de dinheiro.

Todos tinham um meio de ganhar a vida honestamente e ficou subentendido que eles fizeram aquilo tudo pelo desafio, embora depois de estar com o dinheiro nas mãos, todos se corromperam e isso acabou sendo a ruina de todos.

Até mesmo o que tinha a vida mais perfeita, com esposa e muito amor, acabou se tornando um mau caráter por conta do dinheiro, assim como aqueles que gastaram muito em pouco tempo, teve outros que esconderam o dinheiro e até um que resolveu levar uma vida mais simples como mochileiro, mas todos foram corrompidos pelo poder que o dinheiro trouxe, o que nos leva a refletir sobre a felicidade e a riqueza.

Claro que ter as contas pagas em dia e um mínimo de conforto na vida é necessário, mas se temos uma vida boa, o que leva algumas pessoas a se corromperem ou até corromperem outros em busca de algo mais? Precisamos mesmo ter o carro do ano?

Queremos mesmo comer aquela comida chique no restaurante do momento ou só queremos ir para postar fotos e mostrar que podemos?

Esse assunto é longo e precisa de muita reflexão. Quando os personagens tinham o básico e viviam moderadamente bem, eram felizes (e livres), até que finalmente conseguiram fazer o roubo do século e se tornaram infelizes em celas de prisão.

Descordo que dinheiro não traga felicidade. Traz sim, e muita, mas se for ganho com dignidade e sem precisar tirar nada de ninguém!

Acabei filosofando sobre o filme que é apenas uma diversão de quase duas horas, mas quem costuma ler minhas resenhas, sabe que faço muito isso de analisar o que o filme pode ensinar. Porque toda história nos ensina algo. Como por exemplos esses filmes e séries de roubos.

Quem aqui não torceu para os ladrões em La Casa De Papel ou vibrou quando os Onze Homens e Um Segredo conseguiram aplicar o golpe de maneira perfeita?

Então assista O Roubo do Século, torça para quem quiser e divirta-se, pois essa é a principal função do cinema! Até semana que vem, e fiquem com os trailers do filme.

Trailer legendado: https://www.youtube.com/watch?v=BN6svafx_2A
Trailer legendado 2: https://www.youtube.com/watch?v=AXiDHG1PtWA