Blog da Poesia

Poesias que contam histórias

17/03/2021 08:19

O Blog da Poesia desta semana não traz como referência um poeta em especial ou um livro em destaque. Nossa alusão é o contexto. Cenários ou situações. Pessoas e personagens.

O eu-lirico baseado no cotidiano. Na rotina. Versos inspirado nas conversas descompromissadas. Naturais em sua origem. Poemas que respiram vida.

A poesia que conta histórias e que informa (Como o engraxate do Sérgio Almeida que reporta seus versos ao patrono do Museu Municipal Dr. Edyr Lima) Diverte (Contador de histórias, do Ritter, numa justa e merecida homenagem ao Guidugli). Ensina (Savi da Boni, do Jorge Rosa) Homenageia (Tributo especial e carinhoso do Mauro Ulrich para com nossa grandíssima poetisa Célia Maria Maciel). Poesia para refletir. Lustrar nossa existência. Para irradiar.  

O engraxate
Cabeça erguida,
olhar tímido,
infância perdida,
rosto maltratado pelo Sol.
A velha caixa de madeira no ombro franzino encaixava,
o peso mais leve de todos os pesos que carregava.

“Vai graxa aí, moço? Ou samba?”.
Abordava com o coração grato.
Se graxa, dava duas batidinhas com a escova de lustrar na caixa de engraxar.
Se samba, entesava a flanela e tirava um som na gáspea do sapato.
E dizia sorridente e em tom de brincadeira:
“Não precisa dar nada, moço, só estou tirando a poeira!”

Dos suados trocados que juntava,
a maior parte repartia com a família.
E o pouco que sobrava,
de sorriso escancarado,
gastava no que queria.

E foi assim:
Engraxando sapatos
que ele viu nos estudos uma janela de oportunidade.
E o que sua foto na moldura do museu não diz sobre ele?
“Antes de ser advogado, ele também foi engraxate”.
Sérgio da Silva Almeida

O CONTADOR DE HISTÓRIAS
Hei moço!
Você que não é desse lugar... vou te contar uma história...
Aqui antes era tudo simples
Lá no alto tinha um bar azul
Ali na praça tinha o Biduca e suas fantasias
Um vendedor de encrenca
Águas dançantes... um coliseu...
Alguém no banco da praça cantando nos encantava
Um lindo pôr do sol lá na beira do rio
Um relógio no meio da rua para marcar o nosso tempo.
Aqui não existiam saudades
Nas madrugadas frias
Entrávamos em bares enfumaçados
Navegávamos em cantorias desafinadas
As cinco esquinas eram coisas do destino
E as maldades do mundo ficavam do outro lado da ponte.
Hei moço!
Hoje estou aqui sozinho contando histórias que não querem mais ouvir
E todos passam sem prestar atenção... não param... me ignoram...
Estão sempre indo para não sei onde.
É triste ver todos correndo...
Quase todos meus amigos já se foram
Talvez amanhã não haverá mais esse lugar.
(Para o Guidugli)
Jorge Ritter

Guidugli

NELSON STEFFENS
Aos treze anos de idade
ganhei uma sinecura:
ser aluno de Português
do professor Nelson Steffens.
A ocupação não poderia
ser mais prazerosa,
um passeio matinal
pelo jardim de uma flor só,
a última flor do Lácio,
idioma de dizer
minhas dores e amores.
Nelson retirava
as ervas daninhas,
fazendo compostagem
delas para adubar
nossos pronomes oblíquos,
que na sua ânsia de ação,
queriam ser pronomes retos.
Polinizador juramentado,
ele espalhava ao vento
uma profusão de sinônimos,
que são pequenas
ramagens de se dizer
de outros jeitos.
Dizer de outros jeitos
era a melhor
brincadeira nas aulas
e eram os galhos
que mais recebiam
nosso sol e nossa água.
A sintaxe do Nelson
usava gravata e bengala,
mas jamais escarneceu
da nossa sintaxe
descamisada e descalça,
pronta para o mergulho no rio.
Tínhamos uma semântica
criativa e brincalhona,
o que provocava gargalhadas
na semântica nelsiana.
Ele ria das nossas
diatribes ortográficas
com os olhos e se compadecia
do meu ímpeto de querer
tornar proparoxítona
qualquer palavra trissílaba.
Nelson continua sendo
jardineiro-mor do Lácio,
complemento
para bem adjetivar
meu caminho floreal.
Há quem diga
que ele é o próprio
oceano Atlântico,
a depurar, aglutinar,
trazer e levar o idioma.
Quem sou eu para duvidar?
Robson Alves Soares

Savi da Boni
Brotas do chão
arrebatas aos céus
orvalho multicor
danças pra mim
Se jogas
sobre a Savi
na praça
manto colorido
escadarias vivas
cheias de graça
valsando, valsando
danças pra mim
Delicado açoite
de água colorida
que vai e vem
sobe e desce
embalos de
sabado a noite
danças pra mim
Tropicália bossa nova
valsa ou tango
és tu Savi
fonte dançarina
no meio da Boni
da Cachoeira
do fandango.
Jorge Rosa

Praça José Bonifácio – Fonte das Águas dançantes – Artibano Savi 

Celinha Celinda
Para Célia Maria Maciel
Eu acho linda
uma arma sem munição;
um automóvel vermelho
parado na esquina;
um helicóptero
sobrevoando a praia;
um time de futebol de botão.
Eu acho linda
a dor de tua ausência
e a certeza de tua presença;
a voz de alguém
que diz um poema, ao longe;
a altivêz do coroinha
e a cordinha encardida
que amarra a batina
de um monge.
Eu acho linda a vida;
a mão que agarra o pescoço
de um suicida;
teu passo, trôpego,
a procura de uma saída;
a aveludada maciêz da pétala
que pesa uma tonelada
sobre a minha face abatida.
Mauro Ulrich

Célia Maria Maciel 

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