Blog da Poesia

Viviane Mosé

05/05/2021 08:49

Viviane Mosé nasceu no Espírito Santo em 64. É poetisa, filósofa, psicóloga e psicanalista. Mestre e Doutora em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Vive na capital fluminense desde os 28 anos. Escreveu e apresentou o quadro ‘’Ser ou não Ser’’, no programa Fantástico da tevê Globo entre os anos de 2005 e 2006, onde trazia temas da filosofia para o cotidiano com uma abordagem rápida e fluída. É autora dos livros “Toda Palavra’’, “Desato”, “O homem que sabe’’, entre tantos outros.

Escritora contemporânea insurgente. Especialista em quebrar paradigmas. Ainda que suas referências sejam autores como João Cabral, Drummond, Borges e Guimarães Rosa, sua influencias para o versejar são temas da filosofia. Sua escrita reside no caminho do meio, entre o que já foi e aquilo que está por vir.

Original e peculiar. Vida, morte, a passagem do tempo e uma tentativa frequente e irresoluta de tentar procurar espaço para explicar e entender a solidão são tópicos contumazes em sua obra. Espécie de Alain de Botton feminina. Tem nos seus versos a verve do novo, do ineditismo. Reinventa a linguagem com peculiar informalidade fazendo uso de aspectos simples do efêmero, da rotina. O habitual como lugar comum. Como assunto. asserção. A poesia como exercício da liberdade, como premissa e fundamento da vida. No mesmo lugar de ser. Linguagem e reflexão. Contemplação. Pulso, pensamento, razão e sentido.

Poemas Presos –
A maioria das doenças que as pessoas têm são poemas presos
Abscessos, tumores, nódulos, pedras…
São palavras calcificadas, poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre…
Poderiam um dia ter sido poema, mas não…
Pessoas adoecem da razão, de gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.
Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.
E você pode arrancar os poemas endurecidos do seu corpo
Com buchas vegetais, óleos medicinais, com a ponta dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poema com alicate de cutícula, com pente, com uma agulha.
Você pode arrancar poema com pomada de basilicão, com massagem, hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca,
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los das dobras, dos dedos dos pés, das unhas.
São os poemas-corte, os poemas-peito, os poemas-olhos,
Os poemas-sexo, os poemas-cílio…
Atualmente, ando gostando dos pensamentos-chão.
Pensamento-chão é grama e nasce do pé,
É poema de pé no chão,
É poema de gente normal, de gente simples,
Gente de Espírito Santo.
Eu venho de Espírito Santo.
Eu sou do Espírito Santo, eu trago a Vitória do Espírito Santo.
Santo é um espírito capaz de operar o milagre sobre si mesmo
Viviane Mosé

Toda Palavra
Procuro uma palavra que me salve
Pode ser uma palavra verbo
Uma palavra vespa, uma palavra casta.
Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.
Ou palavra muda,
molhada de suor no esforço da terra não lavrada.
Não ligo se ela vem suja, mal lavada.
Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.
Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei
e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.
Penso em quanta fadiga me dava
o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.
Hoje imploro uma fala escrita,
não pode ser cantada.
Preciso de uma palavra letra
grifada grafia no papel.
Uma palavra como um porto
um mar um prado
um campo minado um contorno
carrossel cavalo pente quebrado véu
mariscos muralhas manivelas navalhas.
Eu preciso do escarcéu soletrado
Preciso daquilo que havia negado
E mesmo tendo medo de algumas palavras
preciso da palavra medo como preciso da palavra morte
que é uma palavra triste.
Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.
Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.
Toda palavra é bem-dita e bem-vinda.
Viviane Mosé


 

Lágrimas
As lágrimas
Nunca vêm sozinhas
Traz sempre um rosto
Das palavras duras
Que fazem ferida
E ninguém vê
As lágrimas
Nunca caem sozinhas
Ou por força da emoção
Ou por força da desilusão
Mas têm sempre um rosto
Da beleza e da desilusão
As lágrimas
São sempre verdadeiras
Em todas situações
Em qualquer face
Que elas caem
Não mentem e nem sabem mentir
Simplesmente são verdadeiras
Na sua pureza realista
As lágrimas
São ouro e prata
E vertem por uma forte razão
Na sua mais pura essência
Só quem morre
Não sente
As lágrimas da vida
Ênio Santos

Retrato
Vejo tudo de novo
qual tela de Monet
os caminhos de brita
cercados de lembranças
e bálsamos de flores.
entrando em sintonia
com o canto dos pássaros
e as acácias floridas,
percorro melancólica,
caminhos que não existem,
encontrando fantasmas
com perfume de outrora
das essências poéticas
das gardênias em flor.
Sara Claveaux de Jardim


Terno e Eterno

presente e fiel
palavra certa
beijos secam lágrimas
silêncio hora certa
acarinhar acalma a alma
põe pra dormir...
abraço dentro do braço
coração dispara
desperta
beijo na boca da rua
enerva o espírito
nervos expostos
poesia finda
começo de sim à vida...
Jorge Rosa

Versos avulsos
Numa folha de papel empoeirada
ficam manuscritos sentimentos antigos.
É a imaginação brincando com as palavras
formando versos avulsos e desconexos.
São convicções do coração
que procuram verbos para conceituá-las.
Uma sabedoria que busca na sensibilidade
a linguagem para construir suas reflexões.
São ideias em estado latente
aguardando inspiração para tornar-se poesia.
Gabriela Vidal Domingues


Sensibilidade a flor da pele...
Uma fina camada entre o olhar
E um dique de lágrimas
Pronto para romper
E arrastar quem ousar
Ficar na frente...
Mara Garin

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Viviane Mosé

Enio Santos em 05/05/2021 às 13h54

Fico feliz e, ao mesmo tempo profundamente grato, ao ter minha poesia fazendo parte dessa seleta poetisa, que também é minha colega nos perfis da psicologia. Minha Gratidão ao grande amigo e poeta, Tiago Vargas, para o qual deixo o meu Fraternal Abraço!

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